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No ateliê cheio, improvisado recentemente na casa de sua mãe, Maria Ivone Bergamini mistura estilos e retrata o que está presente em seu cotidiano | Antônio Costa/Gazeta do Povo
No ateliê cheio, improvisado recentemente na casa de sua mãe, Maria Ivone Bergamini mistura estilos e retrata o que está presente em seu cotidiano| Foto: Antônio Costa/Gazeta do Povo

A artista plástica catarinense/curitibana Maria Ivone Bergamini é daquelas pessoas que não ligam para a rotina. Pelo contrário: são os detalhes do dia a dia que fornecem a principal temática para suas obras. Dona de um estilo eclético, ou, como prefere dizer, de uma arte que reflete o momento da vida, ela acaba de inaugurar, aos 67 anos, sua primeira exposição individual fora do país, Detalhes do Quotidiano, que estreou no último fim de semana na galeria Amiarte, na cidade do Porto, Portugal.

Tudo começou ainda menina. No colégio, os colegas imploravam para que ela fizesse os desenhos nas aulas de arte, na surdina. Aos 15 anos, foi tomar aulas com o pintor Guido Viaro em um sótão na Escola de Belas Artes do Paraná (Embap), mesmo sem o apoio familiar. "Era uma época em que a mulher tinha de aprender a bordar, costurar", conta. Assim que conheceu o pintor, começou a fazer aquarelas (sua especialidade), e nunca mais deixou a técnica de lado, apesar de variar bastante (gosta desde pintura a óleo até desenhos com nanquim). "Ele não me deixava fazer outra coisa, só aquarela", recorda.

Outra parceria importante na carreira de Maria Ivone foi com o fotógrafo João Urban, que foi seu vizinho no bairro Mercês, em Curitiba, na mesma casa (da mãe dela) onde hoje está instalado o seu ateliê. Urban começou a se envolver com fotografia e a artista servia de modelo. "O Johnny morava aqui na frente, e me chamava para posar. Eu sempre fui muito fotogênica, e também exibida (risos). Sou tímida para várias coisas, menos para fotos. Ele fez cada imagem linda minha que tive a ideia de usar nos meus trabalhos", conta. Ela uniu as fotografias com colagens e formas geométricas, que foram expostas na Bienal de São Paulo, em 1973.

A pintora não fez a formação acadêmica na área e acabou se graduando em História na Universidade Federal do Paraná. Fez mestrado em História Econômica, porque "na época, muita gente já pesquisava História da Arte, e não me deixaram fazer". Lecionou na UFPR na mesma época em que se casou (com o médico Antônio Vannucchi, em 1975). Nesse período, acabou deixando a arte de lado, intervalo que durou 11 anos – lecionar era melhor financeiramente, e logo vieram os três filhos do casal. "Quando tudo deu certo, pedi demissão da faculdade e passei a me dedicar só para a arte." O retorno foi difícil, mas prazeroso. "Me fazia muita falta. A arte não é uma bênção, é uma maldição. Você não consegue se ver livre nunca. O desenho, o criar em cima, é algo necessário."

Marketing

No ateliê lotado, Maria Ivone mostra desenho atrás de desenho e lembra que precisa doar alguns para museus da cidade que já solicitaram seus trabalhos. Ela se diz um tanto esquecida, mas que também não sabe fazer o seu "mar­­keting." "Nunca fui muito ligada nisso, sempre quis trabalhar para trabalhar. Faço o que estou sentindo e vivendo." Também não se cobra para produzir enlouquecidamente. "Tem dias que você varre a calçada, faz feijão com arroz, vai caminhar... e aí você não trabalha. Já em outros, surge uma vontade grande, já terminei obras em um dia. Outras pinturas demoram meses, fico brigando comigo mesma para saber qual será a cor de um detalhe. Às vezes desenho algo, volto no outro dia, olho, e acho horroroso. É assim que a arte funciona."

A mostra da artista fica em cartaz em Portugal até 20 de maio.

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