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O diretor Fernando Meirelles | Reuters
O diretor Fernando Meirelles| Foto: Reuters

Debaixo de uma das jabuticabeiras carregadas do quintal da O2 Filmes, em Cotia (SP), o ator Pedro Paulo Rangel é quem melhor define "Som & Fúria": "É uma minissérie sobre teatro, dirigida por um diretor de cinema e que vai passar na TV." Depois de se esbaldar na densidade, com filmes como "O Jardineiro Fiel" e "Blindness", Fernando Meirelles escalou um elenco gigante e estrelado para refilmar a comédia escrachada "Slings and Arrows", que foi ao ar na TV canadense em 2003.

O próprio Meirelles adaptou o texto, e divide a direção com Gisele Barroco, Toniko Mello, Fabrizia Pinto e Rodrigo Meirelles. Som & Fúria é mais uma co-produção entre a Globo e a O2 que, neste modelo, já fez séries como "Cidade dos Homens" e "Antônia". Estão gravando, até o fim deste mês, além de Pedro Paulo Rangel, Andréa Beltrão, Felipe Camargo, Dan Stulbach, Regina Casé, Daniel de Oliveira, entre outros.

A série conta a história de uma companhia fictícia de teatro, residente do Teatro Municipal de São Paulo e especializada em montagens de Shakespeare, que está muito mal das pernas, à beira da falência.

A âncora da história, que conta o dia-a-dia da trupe teatral, é o personagem de Felipe Camargo, Dante. Tão dramático e atormentado quanto um Hamlet, o ator de repente se vê à frente da companhia, que antes foi dirigida por Oliveira (Pedro Paulo Rangel). "O Oliveira morre logo no primeiro episódio, atropelado Depois, como fantasma, passa a assombrar o teatro e faz uma parceria com Dante na direção da companhia. Todo bom teatro tem o seu fantasma", adianta Rangel. "O texto é todo muito ligado ao universo shakespeariano. Não chega a ser uma metalinguagem, mas universos paralelos que vão se misturando - o que é encenado no palco pelos atores e o que acontece em suas vidas, nos bastidores."

O descompasso entre o talento artístico e a vocação para os negócios tempera a série com graça e humor negro. "Os atores da companhia são assalariados. No pano de fundo da história estão questões como a falta de patrocínios para o teatro e a dificuldade de se sustentar uma companhia", adianta Felipe Camargo.

Na outra ponta da história, entre planilhas de gastos, está Ricardo, personagem de Dan Stulbach. "Ele é o diretor financeiro da companhia, meio peixe fora d’água", detalha Stulbach. "Quando garoto, ele cantou numa peça, teve seu instante artístico. Mas é careta, exato, e está no meio dessa história porque teoricamente é o cara que discute dinheiro. É o cara do Excel."

Stulbach defende Ricardo, diz que ele não é exatamente um vilão. Mas só o fato de ter de lidar com dinheiro e tirar lucros de Shakespeare já faz dele um sujeito controverso, no mínimo. É numa tentativa desesperada de Ricardo de trazer grande público para o teatro que entra na história o publicitário Sanjay - aí, Rodrigo Santoro aparece em cena.

No meio de mais de 120 atores, a participação de Santoro foi a que causou mais comentários e expectativa. Numa brecha entre os lançamentos dos últimos filmes de que participou no exterior, La Leonera e Che, o ator passou apenas três dias no set de Meirelles - um deles acompanhado pela reportagem do Estado. Logo no começo da conversa, o ator diz que são lenda as informações de que ele estaria ganhando milhões para estar em Som & Fúria e só depois de muita negociação é que a Globo consegui três dias em sua agenda internacional. "Imagina, não é verdade. Meu personagem tem só oito cenas, por isso estou gravando só em três dias", esclarece.

Como todos os outros atores ouvidos pela reportagem, Santoro festeja a oportunidade de trabalhar com Meirelles e a possibilidade de fazer uma comédia rasgada. "Nunca fiz nada assim, onde pude trabalhar muito com humor", diz ele. "Ensaiei trabalhar com o Fernando em 1994, quando ela dirigir uma adaptação de Mar Morto. Eu cheguei a começar a me preparar, mas a minissérie acabou não acontecendo. E eu fiquei com essa vontade de trabalhar com ele. Agora, finalmente tive a oportunidade e adorei."

Na minissérie, prevista para ir ao ar no começo de 2009, Santoro contracena apenas com Stulbach. Ele surge no set com cabelos estrategicamente grisalhos, lápis preto nos olhos, barba desenhada, suado de uma partida de tênis. Fora isso, sabe-se pouco: que é esotérico, um tanto picareta e que sabe ficar numa posição invertida de ioga com perfeição (veja foto no alto).

"Ele é contratado pelo personagem do Dan para melhorar a imagem da companhia. Ele chama isso de reposicionamento de marca, e monta uma campanha chocante. Essa é a filosofia da Sapo Martelo, a agência dele: chocar", adianta. "Mas o Sanjay é um personagem que tem mistérios, acho melhor não revelar para não perder a graça", desconversa ele, como se isso fosse mesmo possível

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