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Por ser uma comédia de Lars von Trier, o humor é negro e mais refinado | Divulgação/IFC Films
Por ser uma comédia de Lars von Trier, o humor é negro e mais refinado| Foto: Divulgação/IFC Films

No dia em que a mostra "Aberturas na auto-estrada" foi aberta ao público, Robert King ganhou apertos de mãos e distribuiu autógrafos para as pessoas que foram ao Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói, para ver de perto os trabalhos do artista plástico português Rigo23. No domingo (26), logo após a entrevista, em que falaram de sua relação e de seu trabalho, Robert e Rigo passearam por pouco mais de 20 minutos por entre as telas e instalações em exposição. Mas, em pouco tempo, despertaram o interesse dos visitantes, inclusive por suas diferenças: um é importante artista plástico, defensor dos direitos humanos, e, o outro, um ex-presidiário cujo crime maior foi integrar um dos mais contundentes movimentos revolucionários do século passado.

- Rigo tem uma missão e eu também. Estar em contato com Rigo me faz ter contato com outras pessoas e, dessa forma, vamos disseminando os valores da justiça. Fui preso por um crime que não cometi e, hoje, não quero que ninguém vá para esse lugar onde fiquei durante 31 anos - declarou Robert King.

Negro, alto, forte e falando em inglês, Robert aparece em fotografias coladas nas paredes do museu e no vídeo exibido continuamente na frente da obra "Panteras no Brasil". Ele é a pantera do meio da obra que Rigo pintou como forma de homenagear "Os 3 de Angola", ou melhor, os três membros do Panteras Negras presos nos Estados Unidos na década de 70. Fundado nos anos 60, o grupo revolucionário defendia os direitos dos negros. Os mais radicais defendiam o armamento.

Robert, que passou 29 anos em regime de solitária, escreveu na parede, em cima do animal e do seu nome: "Libertado 8 de fevereiro de 2001". Herman Wallace e Albert Woodfox, também mencionados na obra, continuam na penitenciária chamada Angola, em Louisiana, Estados Unidos.

- Chamei essa instalação de "Panteras no Brasil" para dizer que Robert está aqui. Esses homens têm um poder de mobilização, por causa da sua história, e minha intenção é estreitar o contato deles com outros seres humanos - contou Rigo.

Branco, de olhos claros, magro e falando duas línguas, o artista plástico português radicado em Los Angeles reclama que, nos EUA, quando o assunto é Panteras Negras, nem ele nem Bob têm voz. Apesar de achar que leva uma vida burguesa, já que viaja pelo mundo, anda de avião e fica em bons hotéis, Rigo tenta denunciar, através de seu trabalho, injustiças, principalmente, na política.

- Trabalho com pessoas que buscam justiça e tento estar próximo desse tipo de energia através da arte. Além de "Os 3 de Angola", faço trabalhos sobre outros presos políticos. É impressionante como somos ignorados quando fazemos um ato maior. Em 2003, tentamos instaurar o dia de Robert King nos Estados Unidos e não tivemos nenhuma mídia. Mal chegamos no Brasil e todos mostraram interesse pelo que Robert tem a dizer - diz Rigo, que tem 41 anos.

O ex-Pantera Negra está aproveitando o movimento do artista plástico para tentar passar um pouco de sua péssima experiência na cadeia para quem quer ouvi-lo. No último sábado (25), ele falou sobre direitos humanos para o público que compareceu ao MAC. Esta semana, chega em São Paulo para conhecer quilombos descobertos por Rigo quando ele veio ao Brasil em 2005.

- Falo muito sobre a prisão porque as pessoas perguntam coisas diversas. Algumas querem saber como não fiquei maluco. Eu falo: "Espere um minuto! Eu não disse que não fiquei maluco" - diverte-se, em um de seus vários momentos de descontração: - Eu estive com psicólogos, fiz exercícios, li. Quando falo sobre prisão e sobre como sobrevivi, digo que é horrível e que não é o lugar para ficar. Lá, a sua alma grita, porque você tem sonhos. Quando saí, senti que não podia ficar calado, porque vi o que acontece quando a pessoa perde as esperanças.

Robert King, que é de Nova Orleans mas hoje mora no Texas, vem rodando diversos países da Europa desde que foi libertado, em 2001, para denunciar o sistema carcerário. Aos 65 anos, ele sabe evitar o maniqueísmo. Principalmente quando se trata de seu país:

- Não acho que todos os americanos são ruins. Há pessoas maravilhosas nos EUA. O problema é a política e como o país está sendo conduzido. Acho que todos nós somos vítimas da política. Todos os americanos estão sendo vítimas de pessoas como Bush.

Robert e Rigo continuam sua missão no Brasil até setembro. Para entender melhor a relação do artista plástico com os Panteras Negras, a mostra "Aberturas na auto-estrada" fica em cartaz no MAC até 18 de novembro, sempre de terça a domingo, das 10h às 18h, com ingressos a R$ 4 e entrada franca nas quartas-feiras.

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