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De bom e de ruim

Conheça os pontos fracos e fortes na opinião dos entrevistados

Pontos fortes

- Exposições nacionais e internacionais de qualidade

- Preço de entrada

- Equilíbrio entre exposições de atração mais popular e erudita

- Abertura do Café do MON e da loja de lembranças

- Venda barata de catálogos na Semana do Catálogo

- Ampliação do público das artes plásticas, de modo geral

- Projeto de exposições de artistas paranaenses históricos, com catálogo

- A produção de material como catálogos, folders e revistas que acompanham as mostras

- Desenvolvimento de atividades educativas para estudantes

- Algumas aquisições, ainda que sem uma política e critérios claros sobre o perfil do acervo do museu.

Pontos fracos

- Falta de comunicação e interesse pela produção paranaense atual

- Falta de uma equipe curatorial que inclua nomes de fora do estado

- Falta de um conselho deliberativo

- Pouca transparência na organização, administração e na política de aquisição de obras

- Poucas atividades extra-exposições como palestras, conversas, grupos de pesquisa, cursos e outros para artistas e o público em geral

- Acesso limitado em feriados, principalmente quando caem na segunda-feira, quando há grande número de turistas na cidade

- Jardins descuidados

A Secretaria de Estado da Cultura

(Seec) passa a ser responsável pelo Museu Oscar Niemeyer. "Durante a gestão Requião, a diretora do museu, Maristela [Requião], chefiava a Secretaria Especial para a Coordenação do Museu Oscar Niemeyer, que agora não existe mais", informou Paulino Viapiana, atual secretário da cultura, em entrevista à Gazeta do Povo por telefone na tarde de ontem.

Um novo tempo?

A classe artística raramente costuma ser unânime em relação a um assunto, mas parece haver uma exceção: todos estão com a esperança de que a área cultural no Paraná vai entrar em um "novo tempo". O otimismo tem explicação. Depois de duas gestões seguidas do governador Roberto Re­­quião, que canalizou a maior parte do dinheiro e da atenção para o Museu Oscar Niemeyer (MON), há sinais de que tudo, ou muito, poderá mudar.

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Em visita recente ao Museu Oscar Niemeyer (MON), o artista e professor de arte Fabrício Vaz Nunes ficou feliz ao vê-lo tão cheio – e não só na área externa, onde as pessoas dançam hip-hop, tomam café e passeiam com o cachorro nos fins de semana. "Isso mostra que, apesar dos problemas, o museu está cumprindo o seu papel, o público vai ao museu – e gosta", diz.

No domingo passado, o primeiro do mês e, portanto, com entrada gratuita, esta repórter se espantou com a quantidade de turistas que formavam fila para entrar. De acordo com balanço geral divulgado no site do MON, de janeiro a no­­vembro, pouco mais de 185 mil pes­­soas haviam visitado o museu, em parte atraídas pela boa quantidade de exposições de arte nacionais e internacionais.

"O mais interessante foi trazer artistas latino-americanos em geral, pouco conhecidos por aqui, proporcionando uma maior integração cultural com os demais países da América Latina", considera Nunes. Como, por exemplo, a mostra de 98 obras do pintor equatoriano Oswaldo Guayasamín (1919-1999). Ele ainda destaca grandes coleções latinas como Vasarely, com serigrafias do pai da Op Art, o húngaro Victor Vasarely (1908-1997), provenientes da Fundación Museos Nacionales, da Venezuela.

"O MON criou boas conexões com instituições internacionais que possibilitaram o acesso do público a coisas que de outra forma não veríamos por aqui."

Mas é aí que começam as críticas à atuação da gestão que deixa o museu. A maior delas se refere a pouca presença de artistas paranaenses nas salas expositivas. Dentre as 24 mostras contabilizadas pelo balanço do MON em 2010, oito eram produções estaduais. Destas, algumas eram itinerâncias pelo estado e, outras, retrospectivas de artistas históricos como Alfredo Andersen, Miguel Bakun e o fotógrafo Haruo Ohara.

"Acho que não há um carinho pelos artistas vivos do Estado. Tivemos Bakun, Franco Giglio, é um dever mostrar obras dos que já se foram e hoje são a história da arte paranaense. Mas, e os que estão aí, vivos, na batalha?", reclama o artista Edilson Viriato.

"A produção paranaense atual das artes plásticas não foi o foco desta gestão do museu. Quem sabe isso se cumpra numa próxima gestão", espera a artista plástica Eliane Prolik. Pode-se alegar que outros museus suprem, até certo ponto, essa necessidade, como a Casa Andrade Muricy, o Museu de Arte Contemporânea e o Museu Alfredo Andersen. "Mas o turista que vem a Curitiba geralmente não frequenta esses espaços: ele vai ao MON e vê muito pouco da arte feita por aqui, que teria grande visibilidade nesse importante ponto turístico da cidade", diz Nunes.

Ele observa que os demais museus da Secretaria de Cultura estiveram, nos últimos anos, à míngua, mantidos com pouquíssimos recursos. "Trabalhei em duas exposições nos últimos dois anos no MAC e encontramos inúmeros problemas: 'chove' dentro de algumas salas, as instalações elétricas estão precárias, os equipamentos de segurança inexistem", diz Nunes.

Em cartaz desde setembro, a mostra O Estado da Arte, com curadoria de Artur Freitas e Maria José Justino, foi uma das poucas iniciativas nesse sentido. "Mas feita apenas neste finalzinho de mandato", critica Nunes. Com a pretensão de mapear a produção do Paraná, a seleção de obras de 80 artistas provocou celeuma por deixar de fora inúmeros nomes e porque muitos selecionados não foram consultados sobre as obras de sua autoria em exibição.

"Fiquei feliz por estar na mostra, mas quando fui vê-la, me deparei com um trabalho meu de 1993 na parte histórica e, na sala ao lado, uma seleção da 'jovem guarda'. Continuo produzindo!", protesta Viriato.

A curadoria (ou falta dela) é, aliás, outro calcanhar de Aquiles do MON. Após realizar duas mostras no espaço, o fotógrafo Orlando Azevedo analisa com base em experiência própria os problemas do museu. "O MON funciona como primeiro mundo em sua segurança, manutenção, café, catálogos, estrutura geral. Contudo, é um cover de revivals e reapresentações, até porque não há um curador-chefe que direcione e crie", dispara.

Aqui, cabe um parêntese. (A mostra de Azevedo, Arqueologia da Morte, estava programada para encerrar no dia 28 de novembro do ano passado, mas, no dia 22, ele recebeu um e-mail dizendo que ela já estava sendo desmontada. Como resposta a seus protestos, recebeu outro e-mail dizendo que tudo não passava de um mal-entendido e que a mostra continuava em cartaz. "No dia 28, fui ao MON e vi que minha mostra havia sido desmontada, sim, antes do prazo, e então remontada de forma completamente adulterada e sem sentido", diz.)

Para o artista Tom Lisboa, o MON precisa investir mais na criação de exposições que levem sua assinatura "e não optar com tanta frequência pelos 'pacotes curatoriais' de outras instituições. Esta facilidade estratégica tem afetado consideravelmente a visibilidade de nossa produção".

Para fazer isso, Eliane Prolik defende a criação de uma curadoria interna ou de curadores residentes e também de um conselho deliberativo formado por pessoas de reconhecida atuação na área em nível nacional, "garantindo a qualidade e pertinência na decisão sobre a programação do museu, das aquisições do acervo e outros".

"O conselho evitaria 'mais do mesmo', ou seja, trocas locais, desmandos, despotismos, vinganças e revanchismos", apoia o crítico de arte Benedito Costa Neto.

Transparência

Para Fabrício Vaz Nunes, falta ao MON a criação de editais para a participação de artistas locais e nacionais, a exemplo dos realizados pelos outros museus. Isso traz à tona outro ponto fraco: a falta de transparência relacionada à administração e organização do museu. "Eu que sou da área nunca ouvi falar em concurso público para funcionário de museu", diz Nunes, enfatizando a necessidade de profissionalização dos museus, com a gradativa inclusão de pessoas com formação e qualificação específica na área museológica. "Infelizmente, o cargo de diretor de museu, no Brasil, é um cargo político, quando devia ser técnico", diz.

Orlando Azevedo critica a falta de divulgação das contas do museu. "Suas cifras nunca foram reveladas e abertas à população, num verdadeiro confisco das deduções fiscais da Copel e da Sanepar. Museu tem que ter dotação orçamentária própria do Estado. Não mais pode ocorrer o uso de verbas que deveriam se destinar à produção local." Em resposta ao pedido de orçamento do MON, a assessoria de imprensa respondeu por e-mail: "O Museu não tem or­­çamento, é uma OSCIP [Organização da Sociedade Civil de Interesse Público], trabalha com parcerias e captação pela Lei Rouanet".

Edilson Viriato faz votos de que a nova gestão do museu seja mais aberta ao diálogo e acompanhe de perto a produção paranaense. "Mostrar nosso trabalho é o elixir para continuarmos produzindo. Temos tanto talento aqui quanto em São Paulo, Rio de Janeiro ou Bahia. Só não aparecemos mais porque há quem nos encubra. Mas a gente sempre acha um zíper, um velcro, e sai, porque este é nosso vício", diz.

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