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Chico Buarque contou que roubava carros na adolescência. Moreira da Silva não assumiu nenhum furto, mas sim uma compra: a do samba "Na Subida de Morro", que por "um conto e 300" deixou de ser de Geraldo Pereira e passou a ter sua assinatura. Tom Jobim revelou que "Sabiá", a música "nada popular" que venceu o 3º Festival Internacional da Canção, foi inscrita só para ele se livrar do risco de virar jurado.

O confessionário para declarações como essas era, em geral, uma mesa de bar, e os inquisidores, a patota de O Pasquim, o jornal "nanico" que chegou a vender 250 mil exemplares por semana nos anos 1970. Publicado originalmente em 1976 pela editora Codecri (Comando de Defesa do Crioléu), o livro O Som do Pasquim, com organização do crítico Tárik de Souza, reuniu as melhores entrevistas com músicos brasileiros feitas pelo semanário desde sua criação, em 1969.

Agora, abrindo as comemorações dos 40 anos do jornal, a Desiderata reedita a série de bate-papos em que, instados pela atitude debochada e até agressiva de Henfil, Ivan Lessa, Jaguar, Ziraldo e cia., em conversas quase sempre regadas a álcool, nomes-chave da MPB abriam o jogo como não faziam em nenhum outro veículo.

Mas, também, em nenhum outro veículo Chico, por exemplo, ouviria a pergunta: "Você não acha ‘A Banda’ insuportável?". "Não havia ainda o politicamente correto", diz Tárik, ex-colaborador do jornal, "então não era preciso pensar dez vezes antes de falar para não incorrer em infrações éticas".

De fato, a nova edição sentiu os sinais do tempo. Roberto Carlos, Maria Bethânia e Ângela Maria não autorizaram a republicação de suas entrevistas. Agnaldo Timóteo – que, como Waldick Soriano (1933-2008), se diz um "tremendo cantor" e atira para todos os lados na conversa com o Pasquim – quis incluir uma retratação.

Na entrevista, de 1972, à qual foi com um dicionário para "procurar essas palavras difíceis que vocês falam", diz que Caetano Veloso "não sabe cantar", que a "linha melódica do Chico é uma m.!", assim como "Águas de Março" (Tom), e que Milton Nascimento é "burro".

"A história desses personagens está acima de uma análise ignorante e preconceituosa de décadas atrás", escreve ao pé da entrevista Timóteo, hoje vereador de São Paulo.

Mais modesto, Caetano, em 1971, já fazia ele próprio um "mea culpa": "Eu não sou um bom músico. (...) Tenho um ouvido mediano, consigo rememorar melodias, cantar coisas, toco violão, faço harmonia certa, se tiver errado eu sei pegar".

Lupicínio Rodrigues, Luiz Gonzaga, Raul Seixas e Martinho da Vila completam as entrevistas.

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