| Foto: Alexandre Battibugli/ Divulgação

Maringá - Após vencer a 53.ª edição do Prêmio Jabuti de melhor reportagem com o livro 1822, o jornalista e escritor maringaense Laurentino Gomes anunciou, em entrevista à reportagem, que vai se mudar para a Pensilvânia, nos EUA, no início do ano que vem. Ele pretende fechar por lá seu próximo livro, 1889, sobre a Proclamação da República.

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Seus dois livros anteriores, 1808 e 1822 já venderam 1,2 milhão de exemplares. Na Pensilvânia, ele passará um ano pesquisando sobre o século 19, e deve voltar ao Brasil em dezembro do ano que vem para lançar a nova obra. Na entrevista, realizada por telefone, ele falou um pouco sobre sua infância, família, trajetória jornalística e planos para o futuro.

Como vai a pesquisa para seu próximo livro, 1889?

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Anda no ritmo certo. Estou correndo atrás para fechar a trilogia. Vou contar a história da Proclamação da República, as características do Império no século 19, a escravidão e a Guerra do Paraguai. Vou mostrar no texto como era o Brasil naquela época e a importância da transformação do século 19 para o mundo. As invenções de um século de grandes transformações. Pretendo lançar o livro em 2013.

Assim como nos outros dois livros, você pretende viajar para pesquisar?

Sim. Na primeira semana de janeiro de 2012 viajo para a Pensilvânia. Vou ficar lá um ano e volto no fim de dezembro de 2012 para fechar e já lançar, em 2013, o 1889. Vou morar em State College, a duas horas de Nova York. É uma cidade universitária onde fica a Universidade de PennState. É um lugar onde há vários acervos importantes de como foi o século 19 e a Proclamação da República no Brasil. Já aproveito para lançar o 1808 em inglês, que será uma novidade também. O livro já foi traduzido e está em negociação com editoras.

Qual é o foco da narrativa das suas obras: História ou jornalismo?

É a História vista com o olhar jornalístico. História e jornalismo ao mesmo tempo. Tudo o que faço é não ficção. A forma de abordar as histórias e organizar os textos é jornalismo. Sempre contando peculiaridades, curiosidades dos personagens para prender o leitor e suprir o que ele precisa saber. O livro todo tem um padrão jornalístico. Conto a história do Brasil, mas toda a técnica é jornalística. Uma novidade de meus livros é que eles têm múltiplos formatos, assim como o novo jornalismo, que é o audiolivro, a internet, redes sociais, obras infantis etc.

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Como você tem recebido as críticas de historiadores?

A crítica é bastante variada e bem-vinda em alguns casos. Há vários historiadores anônimos que reclamam e criticam por eu não ser historiador. Ao mesmo tempo, recebo muitos elogios de historiadores importantes sobre o livro. Um exemplo é José Murilo de Carvalho, que indicou o 1808 para o prêmio de melhor ensaio de 2008 da Academia Brasileira de Letras. Se o livro não tivesse feito sucesso ninguém iria criticar. No início, os historiadores em geral estranharam, mas depois perceberam que o trabalho não era banalizar a História, e sim contar de forma simples e acessível o que aconteceu.

Antes de ser jornalista, o que você fazia?

Nasci em Maringá, em uma família de cafeicultores. Em uma pequena cidade da região, Água Boa, cresci com meus outros três irmãos. Meus pais cultivavam café em uma área que era de propriedade do meu avô. Éramos muito pobres. Minha mãe e meu pai eram semianalfabetos, mas, apesar do pouco estudo, eles sempre quiseram que eu e meus irmãos estudássemos. E deu certo porque todos estudaram e se formaram. Somos a prova viva de que educação transforma a vida das pessoas. Não fosse o incentivo deles, estaríamos na roça trabalhando ou na cidade passando dificuldade.

Você e seus irmãos tiveram, então, uma infância difícil?

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Sim. Muito difícil. Mas serviu para que a gente crescesse também. Trabalho desde criança, quando colhia algodão e café. Conciliava o trabalho com os estudos e sempre estudei em escolas públicas. Já fiz de tudo que o se possa imaginar antes de ser jornalista. Fui jardineiro, sapateiro, auxiliar de escritório, empacotador de supermercado e tive várias outras profissões. Tudo para ajudar nas despesas de casa. Em 1976, passei no vestibular para jornalismo na Universidade Federal do Paraná, que era meu sonho, e me mudei para a capital.

Como foi sair do interior para Curitiba e ainda estudar numa universidade federal?

Foi difícil, um caipira na capital. Fui morar em uma pensão na Rua Saldanha Marinho, em Curitiba. Era um lugar muito precário. Consegui um emprego para ser compensador de cheques no antigo Banco Bamerindus, onde trabalhava da meia-noite às 5 da manhã. Depois, estudava o dia inteiro. Ia com muito sono e cansado, mas ia estudar. Depois de três meses consegui outro emprego melhor, que era para digitar imposto de renda na Receita Federal. Trabalhava das sete da noite à uma hora. Foi uma maravilha, porque eu conseguia descansar mais antes de ir para a faculdade. A realização veio quando depois de um ano consegui meu primeiro emprego de repórter. Foi então que minha vida começou a mudar. Acabou a timidez.

Que tipo de timidez?

Tinha vergonha de conversar com algumas pessoas, falar em público e de entrevistar. No jornalismo não se tem isso. Perdi tudo no dia a dia.

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Em quais áreas do jornalismo você já trabalhou?

Sempre trabalhei com impresso. Fiz algumas coisas para rádio, mas sempre gostei mesmo de jornal impresso e revista.

Qual era sua editoria preferida dentro das redações?

Sempre gostei da editoria geral, nada segmentado como Esportes, Cultura etc. Gostava porque aprendia muita coisa. O repórter de editoria geral escreve sobre tudo e isso muda a gente. Você se torna um conhecedor do mundo. Conheci muitas coisas novas e aprendi muito. A editoria geral é uma belíssima escola para jornalistas iniciantes.

A partir de que momento você decidiu deixar as redações e escrever livros sobre a história do Brasil?

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História sempre foi uma grande paixão da minha vida. Tive bons professores na área no ensino médio. Enquanto eu exercia a atividade jornalística, lia muitos livros. Jornalismo e História parecem ser áreas diferentes, mas é a mesma coisa. Jornalistas também fazem e registram a história do Brasil e do mundo. O livro 1808, por exemplo, surgiu de um projeto de História que fiz para a revista Veja. Depois de um certo tempo a revista cancelou o projeto, mas continuei a pesquisa porque gostava dela.