O escritor paranaense Laurentino Gomes já havia ganhado o Livro do Ano em 2008, pelo livro 1808| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

"O Brasil precisa ter uma linguagem acessível em sua produção acadêmica e em seus livros didáticos, para que o conhecimento produzido chegue à população, que é quem financia esses pesquisadores pelos impostos que paga."

Laurentino Gomes, escritor

CARREGANDO :)
Ferreira Gullar passou 11 anos sem lançar poesias inéditas, até ganhar o Jabuti por Em Alguma Parte Alguma
CARREGANDO :)

Para Laurentino Gomes, a premiação de seu livro-reportagem histórico, 1822 – sobre o processo de independência do Brasil – com o troféu Jabuti de Livro do Ano na categoria não ficção, anunciado na noite da última quarta-feira, não deveria ser inesperada. O autor maringaense já havia vencido em 2008 na mesma categoria com seu primeiro livro, 1808, sobre a vinda da família real portuguesa para o Brasil no século 19. Mesmo assim, ele afirma que a premiação o pegou de surpresa. "Meu coração disparou quando anunciaram meu nome e eu achei que fosse ter um treco no meio da sala São Paulo. O maior prêmio para mim foi ter sobrevivido à premiação", conta rindo.

A Câmara Brasileira do Livro (CBL), responsável pelo Jabuti, elegeu também Em Alguma Parte Alguma, do poeta Ferreira Gullar, na categoria ficção. Cada um recebeu um prêmio de R$ 30 mil.

Publicidade

Com a conquista – vale lembrar que a obra já havia ganhado, conforme as normas da CBL, o troféu de melhor livro-reportagem – 1822 é consagrado não só como um sucesso de público, mas também de crítica. "Se eu não ganhasse nenhum prêmio, falariam que eu sou mais um Paulo Coelho da vida e logo me esqueceriam. O Jabuti marca não só esse fenômeno importantíssimo que é o interesse do leitor brasileiro pela história do país, como também valida o livro perante a comunidade intelectual", diz, lembrando que a comissão julgadora do prêmio Livro do Ano é formada por representantes de diversos setores do mercado editorial, como editores e críticos literários.

Laurentino atribui o sucesso de seus livros em parte à linguagem acessível com que trata seus temas – uma influência direta da sua formação jornalística. A impressionante vendagem de 1,2 milhão de exemplares de seus dois livros até o momento foi assunto de muita discussão. Porém, a resistência da academia científica à sua linguagem se inverteu: agora, o autor cobra clareza e objetividade dos pesquisadores. "O Brasil precisa ter uma linguagem acessível em sua produção acadêmica e em seus livros didáticos, para que o conhecimento produzido chegue à população, que é quem financia esses pesquisadores pelos impostos que paga", defende, e diz que já recebe o reconhecimento por parte de historiadores importantes, como o professor da Unesp Jean Marcel Carvalho França, que disse em entrevista à revista Cult que Laurentino "põe a história na pauta do dia".

Às vésperas de completar a ducentésima semana em várias listas de mais vendidos, com 1808, Laurentino parte no fim do ano para a Pensilvânia, onde fará pesquisas para seu próximo livro, 1889 – título que remete ao ano da proclamação da República –, na universidade Penn State. "Todos esses prêmios colocam uma pressão muito grande em cima do meu trabalho, mas penso que basta fazer o que eu já tenho feito."

Poesia

Antes de publicar Em Alguma Parte Alguma, Ferreira Gullar passou por um hiato de onze anos sem poesias inéditas. Ganhou o prêmio de melhor ficção do ano em 2008 pela coletânea de contos e crônicas Resmungos. "Não sei se poesia é literatura. A gente faz poesia porque a vida não basta", disse Gullar, em seu discurso de agradecimento, e completou: "Ser premiado é gratificante, porque o sentido da vida é o outro, e um prêmio mostra reconhecimento". O poeta competiu com o romance Ribamar, de José Castello, e a coletânea de contos Desgracida, de Dalton Trevisan, entre outros. Quando perguntado sobre se a premiação foi um incentivo para continuar, Gullar, de 81 anos, respondeu: "Incentivo não, porque nesta altura não dá para precisar de incentivo".

Publicidade