Boas intenções gráficas

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Nem sempre a arte dos quadrinhos foi reconhecida como uma forma le-gítima de design gráfico, tampouco seus ilustradores vistos como artistas gráficos. Um grande passo para que a justiça fosse feita foi dado no início dos anos 80, com a publicação da graphic novel Mister X, que acaba de chegar às prateleiras nacionais por ação da Devir Livraria.

Criado em 1983 pelo premiado designer de capas de discos e arte publicitária Dean Motter (Batman: Nove Vidas), o personagem misterioso e enigmático, virou história em quadrinhos graças à parceria de seu inventor com o ilustrador Paul Rivoche (dos desenhos animados Batman do Futuro), que, juntos, criaram os cenários da cidade de Radiant City, berço de Mister X.

Lá, o personagem, um dos arquitetos responsáveis pela criação da cidade, cujos edifícios foram projetados para causar efeitos distintos nas pessoas, fica preso a uma rede de tramas que representam o embate entre criatura e criador. Os efeitos da chamada "psicoarquitetura", conceito desenvolvido por Mister X, acabam por enlouquecer os habitantes de Radiant City.

Motter e Rivoche optaram por mesclar influências de diversas escolas de design na arte seqüencial como o construtivismo russo, o expressionismo alemão, o espírito futurista anti-utopia de Metropolis (Fritz Lang), a arquitetura art-déco e o cinema noir, em prol de uma narrativa climática e de um projeto gráfico inédito. Com capas de Paul Rivoche nas três primeiras edições, Mister X chegou às comic shops dando sinais de uma evolução marcante na qualidade do design gráfico das revistas em quadrinhos, característica logo ofuscada pela diferença de estilos de seus ilustradores.

Inicialmente desenhadas pelos irmãos Jaime, Mario e Gilbert Hernandez (Love & Rockets), as histórias dos quatro primeiros números de Mister X apresentavam o personagem criado por Motter de forma menos soturna e mais caricata, o que incomodou tanto Motter quanto Rivoche. Assim, a proposta artística dos criadores iniciais era visível apenas nas capas, já que o interior das revistas, apesar do talento dos Hernandez, não correspondia às expectativas iniciais.

A edição lançada pela Devir Livraria, Mister X: A Coleção Definitiva – Volume 1. (Devir Livraria. 176 págs., R$ 45), reúne as edições ilustradas pelos irmãos Hernandez e as demais tentativas de contuinidade visual do título, feitas por Ty Templeton (Batman Adventures), Dave McKean (Sandman) e Seth (Drawn & Quarterly). Apesar de jamais ter encontrado sua identidade gráfica, Mister X continua sendo de grande valor para a história da nona arte e para o reconhecimento dos quadrinhos como fonte de talento gráfico e sofisticação visual.