A surpresa começa logo no prefácio do livro Cachaça, do fotógrafo Araquém Alcântara e com textos de Manoel Beato. A obra é apresentada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que não gosta de bebidas alcoólicas "exceto um bom vinho, que entretanto sorvo pouco e devagar". Sua relação com a cachaça, diz, é sociológica, não só por ser a mais genuína bebida brasileira como por sua longa história, que começa por volta de 1532, quando Martin Afonso trouxe a cana para ser plantada em terras brasileiras.
Decidido a traçar o mapa da caninha pelo Brasil, Araquém visitou desde a meca da cachaça, Salinas, no interior de Minas Gerais, a uns passos do grande sertão no Vale do Jequitinhonha, até os alambiques de Paraty, no litoral fluminense. Para Beato, a bebida deve ser tratada como se degusta destilados a exemplo do uísque e o conhaque, apreciando-se as mudanças cromáticas garantidas pelo tempo de armazenamento.
O sommelier traça a correspondência entre os aromas da cachaça (florais, herbáceos, minerais) e os perfumes, mostrando como as madeiras dos barris (ipê, jequitibá, angico, grápia, carvalho) interferem na cor e no resultado final da bebida.
Imagens
Araquém trabalha a luz em composições que elegem não só a bebida como também seu modo de produção e as pessoas cujas vidas giram em torno do cultivo da cana-de-açúcar. São fotos em que predomina a técnica de chiaroscuro de Caravaggio, a começar pela capa, que mostra um beberrão com uma garrafa tentando se equilibrar numa rua escura.
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