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| Foto: Roberto Filho/Divulgacão/

O pianista Luiz Guilherme Pozzi falou à Gazeta do Povo sobre o álbum “Brahms e Liszt: Piano Sonatas”, que lhe rendeu o troféu de Revelação do Prêmio da Música Brasileira. Confira como foi a conversa:

Você foi indicado ao prêmio de Revelação, com artistas populares, e não na categoria Instrumental ou Álbum Erudito. Esperava vencer?

Eu não estava esperando, realmente. Podia acontecer qualquer coisa. Comigo, estava concorrendo um menino, Jean Charnaux, que toca violão, mas lançou um CD com músicas mais no universo popular, do samba e do choro. E um grupo regional baiano, As Ganhadeiras de Itapuã – que além do nome “ganhadeiras”, já tinha levado dois prêmios. Aí já pensei que não ia dar mais. Mas chamaram meu nome. E foi realmente surpreendente. Praticamente todo mundo que estava lá era da música popular. Do meu lado estava o Ney Matogrosso. De música erudita, eu só via o Arthur Nestrovski, que é diretor artístico da Osesp, e a Lúcia Barrenechea, que estava concorrendo com a Osesp. Achei muito legal terem dado o prêmio para mim. E acho também que, quem é da música erudita, que às vezes torce o nariz, deve ver isso com bons olhos. Achei de extrema boa vontade terem me indicado. E fico sem palavras por ter ganhado.

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Não é uma tradição do Prêmio da Música Brasileira escolher artistas e trabalhos do mundo clássico. Tanto é que a categoria Revelação, nos últimos anos, foi vencida por nomes da nova música brasileira, como o grupo Bixiga 70 (2014) e o rapper Criolo (2012). Como você viu sua indicação e premiação?

Eu só tenho a agradecer. Não parei pra pensar se é uma guinada, ou algo assim. Talvez aconteceu por ser um CD que não veio do eixo Rio-SP, ser um CD independente. E o mundo da música popular gosta muito do novo. O da música erudita é mais conservador, não só com obras, mas com pessoas. Nelson Freire, por exemplo, sempre ganhou estes prêmios. De repente, foi uma forma de estimular a novidade. Mas não sei.

Conte como nasceu este álbum.

Este CD foi gravado por acaso. Porque eu não gosto de gravar em estúdio, sempre tive trauma de estúdio. Mas o [também pianista paranaense] Davi Sartori disse: vamos gravar esse recital para deixar em arquivo. Eu disse que não. No fim, ele chegou lá, atrasado, colocou o microfone e gravou nos dois dias. Disse que no segundo foi melhor – mas não me contou que a bateria do computador dele tinha acabado no primeiro, então não havia gravado nada. No fim, eu estava achando que tinha ficado uma porcaria, porque, depois que você acaba de tocar, acha tudo horroroso. Mas fomos ouvir e eu gostei de alguns trechos. Aí, entrei em contato com um monte de selos.

Você percebeu que tinha um material especial nas mãos?

Foi uma coincidência também. Quase nunca um concerto sai com qualidade de CD. Não só artística, de interpretação – tem até dois compassos que comi em uma sonata de Brahms. Mas fomos ouvir e comparar com as gravações de pianistas brasileiros que tenho em casa (tudo que é gravação eu tento conseguir). E vimos que, neste, há uma dinâmica muito grande. Você consegue perceber o pianíssimo, o fortíssimo, quando, na maioria das vezes que se grava um piano, grava-se com o microfone muito próximo e se perde a dinâmica.

Foi um trabalho do tipo “faça você mesmo”, feito sem um esquema profissional.

É feio dizer que é um trabalho amador. Mas foi um trabalho de quem gosta de música, que sabe o som que ela tem que ter.

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