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| Foto: Pedro Serápio/Gazeta do Povo

Nova geração mantém fama alternativa

A cena dos anos 90 pode não ter transformado a cidade, de fato, na Seattle brasileira, como se esperava, mas criou as condições para a continuidade do rock alternativo em Curitiba.

Os exemplos estão aí. O Copa­­cabana Club virou presença constante na MTV e concorre como banda revelação na premiação concedida pela emissora – o VMB. Do mesmo modo, bandas como Terminal Guadalupe e Charme Chulo obtiveram críticas positivas da imprensa nacional e têm sido chamadas para shows e festivais fora da cidade.

Nomes como Sabonetes, Ruído MM, Banda Gentileza e Sugar Kane estão compondo, tocando e produzindo com sucesso. O Tods, remanescente da década passada, prepara seu primeiro disco.

A fama alternativa da cidade permanece. "Já disse em algumas reportagens e repito: Curitiba tem a melhor cena de música no país", diz o jornalista Marcelo Costa, dono de um dos principal sites de cultura no Brasil (www.screamyell.com.br).

Da geração dos anos 90, a banda mais ativa é, sem dúvida, o Re­­lespública. "Eles estão aí, tocando, dedicando-se integralmente à música. O Reles é um patrimônio do rock nacional", diz o jornalista e escritor Fábio Massari.

Outros protagonistas da década de 90 também continuam na ativa. O Woyzeck, por exemplo, continua compondo e, de quando em quado, faz shows em Curitiba para um público fiel. "Sempre fomos cínicos com essa coisa de sucesso comercial. Gostamos de tocar e, ao contrário do que muita gente pensa, nunca paramos. Te­­mos outras atividades profissionais, mas ainda fazemos música", conta o baixista do grupo Dênis Nunes.

O Resist Control segue na mesma linha. A banda segue ensaiando de forma descompromissada e não descarta uma apresentação ao vivo. Quem já tem até data marcada para essa volta é o Fuksy Faluta. A banda deve apresentar as novas e velhas mú­­sicas nas próximas semanas, no Jokers. Não foi combinado, mas tem cara de revival. (GV)

  • ...e na fase atual. Banda ensaia retorno
  • Woyzeck...
  • Resist Control...
  • e Tods: todas ainda estão na ativa, mas aprenderam a redimensionar as suas ambições

Era 16 de setembro de 1994 e a cidade de Campinas sediava a edição de número dois de um dos primeiros festivais de bandas independentes realizados no Brasil: o Junta Tribo. Dois grupos já haviam se apresentado debaixo da lona de circo quando os rapazes do Resist Control subiram ao palco. Já conhecidos nos porões de Curitiba por suas perfomances explosivas que encontravam eco imediato no público, o Resist não demorou a conquistar a plateia da cidade paulista com seu hardcore funkeado. A cada músicas tocada, mais e mais gente subia ao palco, dançava e pulava de volta para os braços do público. Em cima do tablado de madeira, além dos quatro músicos, integrantes de outras bandas assistiam ao show e por vezes faziam o backing vocal nas músicas. No meio de uma das canções, o palco rachou. Apesar do susto, ninguém se feriu.

A banda fez uma pausa para ver se estava tudo certo e voltou a tocar. Parte do público voltou a invadir o placo.

O episódio marcou o jornalista e escritor Fábio Massari, que cobria o evento pela recém-nascida MTV. "Foi uma das coisas mais impressionantes que eu já vi em festivais. O público enlouqueceu e isso marcou o Resist que já era conhecida pelas apresentações energéticas. Aquilo correu o underground brasileiro. As pessoas comentavam: Olha, tem uns caras de Curitiba que chegam a quebrar o palco."

Além do Resist, outras cinco bandas de Curitiba tocaram no Junta Tribo. A cidade parecia estar no epicentro de um fenômeno mundial no mundo da música. Nos Estados Unidos, o Nirvana quebrava as barreiras entre mainstream e underground; no Brasil, vivia-se a explosão de uma cena independente, amadora e até inocente, mas cheia de vontade. "Havia um sentimento de que havia alguma coisa acontecendo entre as bandas do circuito alternativo. Havia algo no ar", diz o músico e produtor Kid Vinil, autor do livro Almanaque do Rock. Segundo ele, Curitiba era uma das protagonistas desse clima. "Tinha um monte de bandas legais fazendo sons diferentes aí. Gente do punk, do rock inglês, do ska."

A cena dos anos 90 em Curitiba começou a se formar de fato, um pouco antes, no final das década de 80, quando os espaços para música própria em Curitiba podiam ser contados nos dedos de uma mão e a estrutura para shows era praticamente nenhuma. "Os espaços eram pequenos, espeluncas sem equipamento decente para o som. Só que esse grupo pequeno, composto pelas bandas e pelos seus públicos se cruzava nesses lugares. Passou a surgir um diálogo, uma conversa para tentar fazer aqula cena ganhar força", diz Manoel de Souza Neto, presidente do Fórum de Música do Paraná e curador do Museu Independente – que reúne a produção musical paranaense.

Engana-se, portanto, quem pensa que o rock curitibano dos anos 90 foi um fenômeno espontâneo. Havia de um lado as bandas, diferentes, autorais e público cativo, mais ainda restrito. Para transformar essa efervescência em algo sólido, um movimento de bastidores se formou. "Eu lembro que tínhamos reuniões toda segunda-feira com o pessoal das bandas, donos das casas, jornalistas, pessoal de rádio. Havia uma vontade de ver a coisa acontecer", lembra o guitarrista do Resist Control, Marcel Felipe Prestes.

As reuniões deram resultado prático. Surgiram mais espaços para a música própria, espaços mais estruturados e maiores. Houve uma melhora no material gráfico e de divulgação das bandas. Rádios abriram espaço para a produção local. Na TV Educativa, o programa CicloJam trazia apresentações das bandas da cidade.

"Uma parte importante da mídia aqui passou a dar força. O Caderno Fun, da Gazeta do Povo, que na época era comandado pelo Abonico Smith, dava destaque de capa para as bandas daqui", lembra Gustavo Guspy, baixista do grupo Fuksy Faluta.

Em 1995, o selo Banguela, criado pelos Titãs e pelo produtor Carlos Miranda lançou a coletânea Alface, que trazia quatro bandas da cidade: Resist Control, Woyzeck, Magog e Boi Mamão. O compacto ganhou várias resenhas elogiosas.

As bandas curitibanas passaram a ser presença constantes nos festivais em outras cidades. A geração nascida no final da década de 80 e começo da de 90 começava a dividir os palcos com bandas mais novas, como Tods, Whir (que estão na coletânea Guitar, produzida por Souza Neto) e Fuksy Faluta.

A fama das bandas de Curitiba já consolidada nos fanzines alterativos alcançou a grande imprensa. A revista ShowBizz cravou que Curi­­tiba era a Seattle brasileira. A Veja, há dez anos, classificou a cidade como "Capital Pauleira" em um tex­­­­to em que citava o frio como mo­­­tivo para as pessoas se reunirem a escutar rock. Na mesma matéria, o então VJ da MTV Gastão Moreira sen­­­­tenciou: "Curitiba tem muitas e boas bandas de rock. Só falta uma explodir e virar um nome nacional."

Os principais candidatos estavam postos. Resist Control, Woy­­zeck, Boi Mamão, Skuba e Reles­­pública haviam lançado bons e elogiados discos. O Fuksy Faluta ga­­­nhou um concurso de bandas da MTV e teve um clip patrocinada pe­­la emissora. A banda chegou a se mu­­dar para o Rio de Janeiro, em busca do mesmo sucesso que as também independentes Planet Hemp e Raimundos haviam alcançado. Não deu. Dezenas de bandas da cidade pemaneceram com nome forte no alternativo, mas não atingiram o grande público. A produção das bandas foi perdendo o vigor. A cena se desfez e músicos, pro­­dutores e jornalistas envolvidos com a música se afastaram. "Como em toda cena houve brigas e alguma intriga. O fato é que a coisa não prosperou. No começo desta década, a sensação era de uma grande res­­­­saca", explica Manoel. Os anos 90 ha­­­viam chegado ao fim.

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