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Ponto de vista

Chico Buarque por outro ângulo

O editor Rubens Burigo e os apresentadores Susan Trindade e Odilon Araújo trabalham nos últimos ajustes antes da estréia | Valterci Santos/Gazeta do Povo
O editor Rubens Burigo e os apresentadores Susan Trindade e Odilon Araújo trabalham nos últimos ajustes antes da estréia (Foto: Valterci Santos/Gazeta do Povo)

Apesar de ser uma só pessoa, Chico Buarque não é um artista que possa ser reduzido somente a uma faceta. Quem faz isso comete um erro. Ele pode ser visto como compositor, cantor, escritor, intelectual, jogador de futebol, etc. Isso para ficar nas mais conhecidas. No entanto, o Chico Buarque que gravou o álbum "Carioca" e que fez show em Curitiba revelou, ou, no mínimo, colocou ênfase num outro ângulo.

Aos 62 anos, o artista que estava diante do Guairão lotado nesta terça-feira (3) não era mais o compositor popular de outrora, nem o cantor político e muito menos o malandro carioca. Esse tipo de expectativa que o próprio passado levanta pode decepcionar quem espera encontrar um artista parado no tempo, pois ele continua criando e, conseqüentemente, se reinventando.

Ali, no centro da cena, Chico Buarque interpretava o poeta, o cronista, o letrista e o músico que, mais sereno que em outros tempos, fez de uma seleção de músicas uma conversa com o público por meio de canções. Ao abrir o show com a música "Voltei a Cantar", de Lamartine Babo, ele relembra Mário Reis – um de seus ídolos, que usou a mesma canção quando voltou aos palcos após um longo tempo afastado – e diz para a platéia exatamente o que está escrito no título.

Como cronista, nos conta coisas sobre o Rio de Janeiro nas canções "Morro Dois Irmãos" e "Subúrbios", e aporta em Curitiba. A única vez em que falou diretamente ao público algo mais longo que um "muito obrigado", foi para dizer que o show continha três músicas ("A História de Lily Braun", "A Bela e a Fera" e "Na Carreira") compostas em parceria com Edu Lobo para o espetáculo O Grande Circo Místico, apresentado pela primeira vez em 1982 pelo Balé Teatro Guaíra em Curitiba. Portanto, o espetáculo era também curitibano.

Como artista, homenageia para a platéia o cinema em "As Atrizes" e "Ela Faz Cinema" e ainda nos lembra das trilhas quem compôs ao longo da carreira: "Porque Era Ela, Porque Era Eu", "Palavra de Mulher", "Sempre", "Bye Bye Brasil" e "‘Mambembe".

Como letrista e poeta, bem, todas as opções acima. Como músico, melodias sutis e trabalhadas – em grande parte devido a direção musical do show e produção do álbum de Luiz Cláudio Ramos –, integração com a banda e um cantar muito seguro, de quem gosta (ou aprendeu a gostar) da profissão.

Para encerrar o show, a escolhida foi a música "Na Carreira", interpretada pelo cantor Chico Buarque como se quisesse dizer, arrependido dos oito anos de afastamento, mais alguma coisa: "Ir deixando a pele em cada palco / E não olhar pra trás / E nem jamais / Jamais dizer / Adeus". A música funcionou, mas a despedida não. O artista voltou ao palco mais duas vezes e cedeu aos apelos cantando alguns hits do Chico compositor popular.

Considerando tudo isso, cabe também lançar uma nova luz sobre o título do CD. "Carioca", rótulo criticado por ser regionalista demais, aqui não parece fazer uma referência ao Rio, mas sim ao próprio Chico, que recebeu a alcunha como apelido quando morou em São Paulo. Portanto, ao que parece, o tema principal do CD e do show é o próprio Chico e sua carreira. Uma reflexão importante para quem quer sempre buscar a novidade, um outro ângulo, uma nova faceta.

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