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Wim Wenders e Jane Campion são dois dos diretores aclamados responsáveis por uma coletânea de curtas-metragens sobre a luta das Nações Unidas contra a pobreza, mas a agência da ONU que deveria patrocinar o projeto se distanciou dele.

A obra "8", que fez sua estréia na quinta-feira no festival de cinema de Roma, reúne oito cineastas de sucesso para ilustrar as oito Metas de Desenvolvimento do Milênio fixadas pela ONU em 2000, que têm como objetivo até 2015 reduzir pela metade o número de pessoas que vivem na pobreza extrema no mundo.

Cada diretor parte de um ângulo diferente para mostrar como pobreza, mudanças climáticas, falta de acesso à educação e saúde básica afetam não apenas os pobres do mundo, mas também os que vivem no Ocidente rico.

O cineasta africano Abderrahmane Sissako mostra um garoto de 8 anos aprendendo sobre as metas da ONU numa escola depauperada na Etiópia. O ator e agora diretor Gael Garcia Bernal traz um pai na Islândia explicando a seu filho a importância da educação. Jane Campion explora a devastação provocada pela estiagem na Austrália.

Autor de filmes cult como "Um Sonho Sem Limites" e "Paranoid Park", Gus Van Sant, explora o contraste entre skatistas americanos despreocupados e as duras estatísticas sobre a mortalidade infantil nos países pobres.

O holandês Jan Kounen acompanha uma grávida na Amazônia desesperadamente procurando atendimento médico, e outro dos curtas do filme, do argentino Gaspar Noe, foca a Aids.

Mas foi o curta da diretora indiana Mira Nair, sobre igualdade entre homens e mulheres, que provocou um desentendimento com o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), que acabou por retirar seu apoio ao projeto.

"INSULTO AO ISLÃ"

O curta de Nair mostra uma muçulmana que vive em Nova York e decide deixar seu marido e filho pequeno porque está apaixonada por outro homem, que é casado.

"Em abril de 2008 o PNUD nos procurou e exigiu que tirássemos o filme de Mira Nair, senão ele retiraria seu logotipo do projeto. Disseram que o filme dela corria o risco de insultar o islã", revelou o produtor francês Marc Oberon após a sessão do filme para a imprensa em Roma. "Decidimos não tirar o filme, então o PNUD se afastou."

Um porta-voz do PNUD, Adam Rogers, disse à Reuters que a agência achou que o trabalho de Nair "seria envolto em polêmica".

"Receamos que ele atraia o tipo errado de atenção à causa da promoção da igualdade entre os sexos", disse Rogers por telefone desde Genebra, acrescentando que a União Européia também se afastou do projeto.

Mira Nair defendeu sua escolha, dizendo que trata-se do direito de uma mulher de se expressar.

"Fizeram tempestade em copo d'água", disse ela. "Francamente, não era o que o filme merecia".

"Meu filme foi inspirado numa história verídica e foi escrito pela pessoa que viveu essa história. A liberdade não vem numa embalagem bonitinha. Ela é acompanhada de dor", disse a cineasta.

"Eu também quis fazer o filme por causa da reação no Ocidente a qualquer mulher que viva sob um hijab ou uma burca. Elas geralmente são identificadas como mulheres submissas, que não têm direitos. Isso é totalmente falso."

Deixando a polêmica de lado, Wim Wenders disse que espera que o filme, como um todo, aumente a conscientização do público sobre a pobreza, especialmente agora, quando a crise financeira global corre o risco de desviar os recursos dedicados à ajuda e ao desenvolvimento.

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