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É comum para os assíduos freqüentadores de cinema de Curitiba se perguntarem por que determinados títulos demoram ou deixam de vir para os cinemas da capital paranaense. E em meio ao relevante questionamento, alguns buscam outras formas de obter os filmes. Outros ficam indignados, como foi o caso de dois leitores do Caderno G, da Gazeta do Povo.

Marcos Vogue e João Luis Michzechen escreveram reclamando da programação dos cinemas na cidade. Cinéfilos de carteirinha, eles se dizem inconformados com a pouca variedade de filmes exibidos e com a demora no lançamento de alguns títulos. Citam "Impulsividade", drama de Mike Mills premiado no Festival de Sundance que saiu de cartaz em São Paulo e não veio para Curitiba. Também mencionam os casos parecidos do documentário brasileiro "Soy Cuba – O Mamute Siberiano", de Vicente Ferraz, e o premiado "2046", do chinês Wong Kar Wai. "Após muito tempo de submissão à situação dos cinemas-de-arte de Curitiba, resolvemos manifestar nossa inconformação", escrevem, indagando até quando a cidade "será tratada como a 5.ª comarca de São Paulo?"

A revolta dos leitores é válida e compreensível. Longas de repercussão no circuito de festivais ao redor do planeta deixaram de vir para as salas de exibição curitibanas. Exemplos não faltam. "As Chaves de Casa", de Gianni Amélio, premiado no Festival de Veneza está há semanas em cartaz no Rio de Janeiro e São Paulo e continua inédito em Curitiba. "Oliver Twist", adaptação da história de Charles Dickens filmada por Roman Polanski, também não deu as caras Em outros casos, os cinemas acenam com cartazes, mas os filmes nunca aparecem, como aconteceu com "Uma Vida Iluminada", com Elijah Wood no papel principal.

Até indicados ao Oscar não têm indícios de serem exibidos na capital, como "Paradise Now", de Hany Abu-Assad, que discute o confronto entre israelenses e palestinos e recebeu indicação à estatueta de melhor filme estrangeiro. O mesmo ocorre com "A Lula e A Baleia", que concorre na categoria de melhor roteiro original.

Exibidores explicam

Há uma explicação para a forma com que os cinemas da cidade exibem determinados filmes. De acordo com Adhemar Oliveira, diretor da rede de cinemas Unibanco Arteplex, é necessário, em um primeiro momento, diferenciar o setor de distribuição do setor de exibição. Segundo Oliveira, muitas vezes os responsáveis pelos cinemas ficam à mercê de poucas cópias trazidas ao país pelo distribuidor. E esta é uma explicação procedente, já que os distribuidores são os proprietários das cópias em película que circulam pelos cinemas. Cabe a eles o planejamento e execução de das estratégias de lançamento dos filmes, o que inclui a relação de cidades em que cada produção será exibida.

Em se tratando de lançamentos de médio e pequeno porte, a situação é ainda mais complicada, já que a quantidade de cópias que circula pelo país é proporcional às projeções de sucesso de cada filme. Ainda de acordo com Oliveira, os distribuidores não correm o risco de levar prejuízo. Por isso, eles vêm ao país com apenas quatro ou cinco cópias. Para se ter uma idéia do quão mínimo é este número, superproduções da franquia "O Senhor dos Anéis" ou "Harry Potter" são lançados com mais de 200 películas, enquanto lançamentos médios, como "A Sogra", receberam perto de 70. Já os filmes chamados "de arte" têm um montante muito reduzido de cópias, muitas vezes não ultrapassando dez.

Uma vez decidido o número de películas direcionado à uma cidade, o circuito exibidor (os cinemas) disputam os títulos disponíveis. O poder de barganha de espaços como a Cinemateca de Curitiba é menor, em função do menor preço de ingresso praticado e menor retorno dado à distribuidora. Já o tempo de permanência dos filmes é diretamente ligado à freqüência das salas.

Essa conjunção de fatores é responsável pela disponibilidade irregular dos filmes em Curitiba. A esperança de Adhemar Oliveira é que a digitalização dos sistemas de distribuição e projeção mude essa realidade. Para ele, quando os filmes forem distribuídos digitalmente por redes, o problema da quantidade de cópias vai acabar. Esse tipo de sistemas já está sendo testado em diferentes partes do mundo, inclusive no Brasil, e deverão ser implantados a médio prazo. Cabe aos amantes da sétima arte aguardarem.

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