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Mais recente filme de Jean-Marie Straub, “Kommunisten” explora longos monólogos e diálogos entre não mais do que três personagens. Com uma montagem dividida em seis partes, o curta mostra histórias da utopia política do século 20, enquanto conta com a perspectiva individual dos personagens europeus imersos em guerras. A obra não sincroniza diálogo e imagens, o que demanda bastante atenção do espectador, que ora se perde nas rápidas palavras dos idiomas francês, alemão e italiano e outras vezes é hipnotizado com o percurso panorâmico da câmera por entre as paisagens – com cenários longe das costumeiras imagens das capitais europeias.

Os filmes de Straub e de sua companheira Daniéle Huillet são conhecidos pelo estímulo ao pensamento crítico. “Kommunisten” é construído com os pensamentos do escritor e pensador político André Malraux, conhecido por sua luta antifascista na Europa durante o século 20, e com recortes de filmes anteriores de Straub: “Esperança” (operários, camponeses, 2001); “Desprezo of Time” (2014); “As pessoas” (Muito cedo, muito tarde, 1982); “O Apuane” (Fortini / Cani, 1976); “A Utopia Comunista” (Morte de Empédocles, 1987); “Novo Mundo” (Black Sin, 1989).

Straub é comunista e inconformado com a falácia do fim das ideologias. Por isso, escolhe três passagens provocadoras de textos de Malraux: a cena em que dois acusados, de pé contra uma parede branca respondem às perguntas de um interrogador convicto de suas ideias. Na sequência, em tela preta, mais falas do que parece uma série de acusações sobre os dois comunistas interrogados e, por fim, um casal sem rosto, que conversa sobre os arranjos necessários para prosseguir a vida diante de suas ideologias.

Como uma mistura de filmes caseiros e as fragmentações de um sonho, o filme termina sem desfecho, mas com um olhar sobre o porvir e a possibilidade de um novo mundo. Guiado pelos sons da natureza, a calmaria e a inquietação permanecem no espectador, que deve levar as falas e as imagens para a cama. “Kommunisten” não é um filme sobre uma ideologia, mas sobre a fragilidade para manter suas esperanças no horizonte.

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