
Em meados da década de 1970, um gênero tornou-se popular no cinema, os chamados “filmes-catástrofe”.
Com grandes elencos, produções como “Inferno na Torre”, “Aeroporto” e “Terremoto” colocavam o público em pânico criando ou recriando tragédias de grandes proporções.
Há um pouco desse espírito em “Evereste”, filme que reconstitui aquele que até o ano passado havia sido o maior desastre ocorrido na montanha mais alta do mundo.
Em maio de 1996, quando duas expedições desciam do cume do Monte Everest, uma tempestade forte atingiu o local.
Alguns alpinistas ficaram impossibilitados de concluir a descida e oito deles acabaram morrendo.
O episódio foi retratado no livro “No Ar Rarefeito”, escrito por Jon Krakauer, um dos integrantes do grupo que conseguiu se salvar.
O clima de terror descrito pelo autor ganha corpo nas telas, com um realismo jamais verificado nas produções do gênero.
“No Ar Rarefeito” foi uma das fontes para o roteiro de “Evereste” (o título brasileiro ganhou um inexplicável “e” no final), que estreia no próximo dia 24, mas tem sessões de pré-estreia neste fim de semana (confira no Guia).
Sobreviventes da tragédia também foram entrevistados para dar vida à história, dirigida pelo islandês Baltasar Kormákur (de “Dose Dupla” e “Contrabando”). Assim como nos filmes-catástrofe, o elenco tem vários nomes de peso, como Jason Clarke, Jake Gyllenhaal, Josh Brolin, Keira Knightley e Robin Wright.
A narrativa é centralizada em Rob Hall (Clarke, de “Exterminador do Futuro: Gênesis”), alpinista experiente que conduzia expedições comerciais ao Everest. Junto com outro renomado guia, Scott Fischer (Gyllenhaal, que também pode ser visto em “Nocaute”), eles levaram ao topo um grupo formado, em sua maioria, por alpinistas amadores.
Enquanto acompanha a preparação e a escalada, “Evereste” segue uma fórmula conservadora, com dramas superficiais e frases-clichê do tipo “a palavra final é sempre da montanha”.
É a partir da segunda metade, quando começa a se desenhar o drama da descida, que o filme se torna uma experiência dolorosa. Primeiramente na tensão que vai se acumulando à medida que percebemos a tragédia se aproximar.
Quando a tempestade atinge os alpinistas o espectador sente o primeiro golpe, graças à tecnologia que recria em detalhes as condições adversas enfrentadas pelos aventureiros.
Desse ponto em diante, “Evereste” se torna um filme angustiante, quase torturante. É justamente esse o diferencial em relação aos velhos filmes-catástrofe: enquanto estas produções usavam pirotecnia para espetacularizar o drama, o filme de Kormákur investe no realismo, mergulha a plateia no sofrimento físico e psicológico dos personagens.
Uma experiência intensa, não recomendada para plateias sensíveis ou que estejam apenas à procura de diversão.
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