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Glauber Rocha na tela: cineasta baiano dirigiu “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1963). | Divulgação
Glauber Rocha na tela: cineasta baiano dirigiu “Deus e o Diabo na Terra do Sol” (1963).| Foto: Divulgação

Havia uma alternância entre expectativa e celebração quando Mossa Bildner entrou na sala 4 do Cinesystem na noite da última sexta-feira (12). A reportagem da RPCTV se preparava. Críticos de diversos lugares do país guardavam olhares atentos e curiosos, enquanto a plateia conhecia de perto aquela senhora alta, de cabelos vermelhos e sotaque divertido. Afinal de contas, não era pouca coisa: em instantes, seriam exibidas imagens inéditas filmadas por Glauber Rocha. “A Vida é Estranha”, um dos filmes mais aguardados da 4.ª edição do Festival Olhar de Cinema, deixou de ser um achado cinematográfico para se tornar um registro tão experimental quanto intimista.

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“Descoberto” durante entrevistas para a produção de um perfil da cantora norte-americana Mossa Bildner, publicado na Gazeta do Povo em março deste ano, o registro de 39 minutos em formato super-8 foi restaurado por profissionais envolvidos no festival (William Biagioli, Alexandre Rogoski, Guilherme Delamuta e Pedro Giongo). O jornalista Paulo Camargo fez o meio-campo. E o mundo viu mais Glauber.

Com música, Mossa, namorada do cineasta durante os anos 1970, dividiu o filme em três. Na primeira parte, quando se ouvem ritmos tradicionais do Marrocos (onde se passa a maior parte do curta-metragem), as imagens são turvas. Causam reações imprecisas. É Mossa quem filma: vemos Glauber fazendo a barba.

Num segundo momento, o casal e uma dupla de amigos estão em Essaouira, reduto hippie do Marrocos naquela época. A trilha é lisérgica, líquida, e acompanha imagens de jovens fumando narguilé. Glauber tem a câmera nas mãos na maior parte do tempo: dá um close em um suco de laranja.

Nas cenas derradeiras, Mossa canta de forma magistral o poema “Há Momentos”, de Clarice Lispector. “A felicidade aparece para aqueles que choram/Para aqueles que se machucam/Para aqueles que buscam e tentam sempre/E para aqueles que reconhecem/a importância das pessoas que passam por suas vidas.” Na tela, registros da Espanha. Ônibus, pessoas, cores. Muitos sorrisos.

Para além da “catarse coletiva” que tornou a exibição do filme possível, Glauber Rocha é, de certa forma, desmistificado e reapresentado depois de 40 e poucos anos. Isso de maneira respeitosa. E loucamente apaixonada.

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