• Carregando...
Sônia Braga em cena de “Aquarius”: confusões políticas à parte, o  filme tem grandes qualidades | Fotos:
Divulgação
Sônia Braga em cena de “Aquarius”: confusões políticas à parte, o filme tem grandes qualidades| Foto: Fotos: Divulgação

Após um processo conturbado, o filme “Pequeno Segredo”, de David Schürmann, foi o escolhido do Brasil para disputar uma indicação ao Oscar de filme estrangeiro. A escolha da comissão, no entanto, desagradou muita gente, que via “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, como o favorito para ficar com a vaga. Mas, afinal de contas, foi justa a decisão da comissão instituída pela Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura?

Para tirar a prova real, a reportagem do Caderno G assistiu a 15 dos 16 filmes que se inscreveram para pleitear a indicação. O único que não pôde ser conferido foi justamente “Pequeno Segredo”, que ainda não foi lançado em circuito comercial. A estreia está marcada para o dia 10 de novembro, mas antes o filme será exibido durante uma semana em setembro, em local ainda não definido. A medida visa cumprir a exigência da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, segundo a qual o filme deve ser exibido em circuito comercial durante sete dias consecutivos até 30 de setembro.

A seleção conta com bons filmes, como “Chatô”, de Guilherme Fontes, “A Despedida”, de Marcelo Galvão, e “Campo Grande”, de Sandra Kogut. Mas na avaliação dos jornalistas do Caderno G, não houve como escapar: “Aquarius” é mesmo o filme que deveria representar o Brasil.

Por que “Aquarius”?

O filme de Kleber Mendonça tem seus defeitos, como a duração excessiva, que faz com que a narrativa se torne cansativa em alguns momentos. Mas as qualidades do filme superam esse obstáculo. “Aquarius” tem um roteiro consistente, que narra a luta da jornalista Clara (Sonia Braga, em brilhante atuação) contra a empreiteira que planeja demolir o prédio onde construiu sua vida.

Temas atuais como corrupção, violência e desigualdade são inseridos na trama sem que o filme ganhe um tom panfletário. Mais do que o “retrato do Brasil”, comum na produção cinematográfica nacional, é uma história contada com talento, especialmente na parte final. Confira a seguir a avaliação dos outros 15 concorrentes, por que mereciam ou não uma chance.

Vidas Partidas, de Marcos Schechtman

Por que merecia: O filme trata de uma problemática universal, a violência doméstica, de forma contundente e sem descambar para o sentimentalismo barato. Ponto para as interpretações de Naura Schneider, como vítima, e Domingos Montagner, como o marido violento.

Por que não merecia: a narrativa demasiadamente convencional e a falta de profundidade dos personagens prejudica um melhor desenvolvimento da história, que teria fôlego para ir além do maniqueísmo homem versus mulher.

AG

Menino 23: Infâncias Perdidas no Brasil, de Belisario Franca

Por que merecia: a história real recontada pelo documentário, através de um bom trabalho de pesquisa, é tão impressionante quanto assustadora. Nas décadas de 1920 e 30, uma fazenda controlada por adeptos do nazismo manteve crianças em regime de escravidão.

Por que não merecia: documentários não costumam emplacar em categorias fora daquelas específicas do Oscar. Por mais que o tema seja atraente, a tradicionalista Academia é adepta do “cada um no seu quadrado”.

AG

O Começo da Vida, de Estela Renner

Por que merecia: outro documentário inscrito para a vaga, usa entrevistas com famílias e especialistas de diversos países para mostrar a importância da formação dos seres humanos nos primeiros anos de vida. O tom otimista é prato cheio para ganhar a simpatia do público.

Por que não merecia: além de também estar na categoria documentário, o filme tem um formato que em muitos momentos se assemelha ao de produções televisivas, não apresentando assim maiores atrativos em termos de linguagem cinematográfica.

AG

O Roubo da Taça, de Caíto Ortiz

Por que merecia: o prêmio conferido pelo público no Festival South by Southwest, nos EUA, mostra que a comédia pode conquistar plateias fora do Brasil com seu humor debochado, personagens caricatos e a estética que reproduz fielmente o espírito dos anos 80.

Por que não merecia: muitas das piadas contidas no filme são tipicamente brasileiras e não podem perder a graça no exterior. Mesmo dentro do país, algumas questões como a malandragem carioca e a relação apaixonada com o futebol têm lá suas restrições.

AG

Nise- O Coração da Loucura, de Roberto Berliner

Por que merecia: o filme retrata um personagem peculiar, cuja trajetória é fascinante. Glória Pires interpreta com esmero Nise da Silveira, psiquiatra que no século passado usou a arte para substituir procedimentos traumáticos no tratamento de doentes mentais.

Por que não merecia: a bela história que o diretor tinha em mãos acaba prejudicada por um vício comum a muitas biografias do cinema brasileiro. Em muitos momentos, o filme apela para o melodrama, parecendo querer forçar o espectador a se emocionar.

AG

Chatô, o Rei do Brasil, de Guilherme Fontes

Por que merecia: a saga de 20 anos de Guilherme Fontes para levar às telas a trajetória do magnata das comunicações Assis Chateaubriand surpreendeu. Apesar de todos os percalços, Fontes fez um filme ousado, fora do convencional e mesclando diferentes influências.

Por que não merecia: Guilherme Fontes foi ousado talvez até demais para os padrões da Academia. Sua narrativa nada linear com estética bagunçada e arroubos de chanchada seria forte candidata a caras de estranhamento e narizes torcidos por parte dos gringos.

AG

Tudo que Aprendemos Juntos, de Sérgio Machado

Por que merecia: histórias edificantes sempre são bem vistas em Hollywood. Especialmente quando estão relacionadas a um processo de transformação social, caso do maestro vivido por Lázaro Ramos que usa a música para transformar uma comunidade pobre de São Paulo.

Por que não merecia: apesar da narrativa eficiente, o diretor tropeça nos lugares-comuns a filmes que tratam de dramas da periferia: o jovem aplicado com problemas familiares, o revoltado talentoso, os criminosos intimidadores, entre outros chavões.

AG

“A Bruta Flor do Querer”, de Andradina Azevedo e Dida Andrade

Por que merecia: A Academia tem reservado espaço para os independentes em suas categorias principais, e é isso que o filme se propõe, com um orçamento enxutíssimo de R$ 30 mil e uma história simples e bem montada, que ganhou os Kikitos de direção e fotografia no Festival de Gramado em 2013.

Por que não merecia: Os próprios diretores atuam no filme e lhes falta versatilidade dramática, o que acaba por comprometer algumas cenas. AC

“A Despedida”, de Marcelo Galvão

Por que merecia: O tema da velhice é manejado sem clichês pelo diretor e pelo ator Nelson Xavier, irretocável em sua performance. O protagonista, chamado apenas de Almirante, é um nonagenário que, ignorando sua decrepitude física, tira um dia para acertar contas, incluindo um encontro com sua jovem amante, vivida por Juliana Paes.

Por que não merecia: Galvão tenta colocar o público na pele do Almirante, o que resulta em experimentações mais ousadas que podem não ser bem aceitas, como o recurso de um incômodo ruído nos primeiros 15 minutos do filme. AC

“Até que a Casa Caia”, de Mauro Giuntini

Por que merecia: Marat Descartes e Virginia Cavendish, que vivem Rodrigo e Ciça, um ex-casal que divide o mesmo teto, são os pontos fortes desse filme que tem a corrupção como pano de fundo.

Por que não merecia: Indeciso entre drama e comédia quando o marido começa a namorar outra mulher (Marisol Ribeiro), o roteiro derrapa também quando coadjuvantes começam a ser inseridos sem explicação. A história do filho dos protagonistas, vivido por Emanuel Lavor, também fica perdida. AC

“Campo Grande”, de Sandra Kogut

Por que merecia: Carla Ribas e Ygor Manoel, protagonistas absolutos, desenvolvem uma relação emocionante e verossímil. Ele interpreta um menino que é deixado com a irmã (Rayane do Amaral) na porta da casa de Regina, papel de Carla. A preparação das crianças foi feita por Fátima Toledo, o que pode explicar suas atuações impressionantes.

Por que não merecia: Ambientado no Rio, o filme mostra as transformações urbanas que as obras para a Copa e Olimpíadas promoveram. Um registro recorrente que pouco fala para quem não mora na cidade. AC

“Mais Forte que o Mundo – A História de José Aldo”, de Afonso Poyart

Por que merecia: Hollywood adora uma boa história em que heróis superam demônios internos. E Poyart conta a trajetória do lutador José Aldo, campeão do UFC na categoria peso pena, dessa maneira. José Loreto, muitos centímetros mais alto que o Aldo original, entrega um protagonista bastante íntegro.

Por que não merecia: O drama do personagem, que tem pai alcoólatra que abusa fisicamente da mulher, não convence como as bem filmadas cenas de ação. A tentativa de construir um mito de 30 anos sai pela culatra em tanto exagero. AC

“O Outro Lado do Paraíso”, de André Ristum

Por que merecia: O longa é ambientado em um período histórico efervescente para o Brasil: os primeiros anos de Brasília e o início do golpe militar. Baseado num conto do escritor Luiz Fernando Emediato, o filme emociona por contar esse período pela ótica de uma família simples, que raramente é retratada quando se fala em ditadura.

Por que não merecia: A narrativa emocionante do longa se perde no excesso de offs. Contada pelo garoto Nando (Davi Galdeano), o filme também tem intervenções do personagem em idade adulta (voz de Luiz Mello). AC

“Pequeno Segredo”, de David Schürmann

Por que merecia: O roteiro é de Marcos Bernstein (que assinou também “Central do Brasil”, candidato ao Oscar de filme estrangeiro em 1999), música de Antonio Pinto (“Cidade de Deus” e “Colateral”) e arte de Bridget Broch (oscarizada por “Moulin Rouge”).

Por que não merecia: “É o pior filme brasileiro dos últimos anos. Oceano de clichês e sentimentalismo. A narrativa é piegas, as imagens são piegas, a banda sonora é piegas, a direção é de uma platitude sem fim”. (Alcino Leite Neto, Folha de S. Paulo)

“Uma Loucura de Mulher”, de Marcus Ligocki Júnior

Por que merecia: Trata-se de uma comédia romântica que se propõe a falar sobre questões de gênero e política e marca a última atuação de Luís Carlos Miele, morto em outubro de 2015, no cinema.

Por que não merecia: Apesar das atuações carismáticas da protagonista Mariana Ximenes e de Guida Vianna (que faz uma vizinha bisbilhoteira), a comédia não alça voos maiores a partir de um roteiro fraco. Mariana interpreta uma ex-bailarina que quase é internada pelo marido, candidato a governador, quando reage ao assédio de um apoiador político. AC

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]