Clássicos bolachões

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O norte-americano Phil Spector é conhecido por ser o produtor de Let It Be, último disco lançado pelos Beatles. Phil tem 70 anos, cara de maluco e cumpre prisão perpétua por ter assassinado uma atriz, em 2003. É dele a sentença: "os LPs são feitos de dois hits e dez pedaços de lixo". Pobre Phil.

Ao que consta, o norte-americano nunca ouviu Nós Vamos Invadir Sua Praia, LP da banda paulista Ultraje a Rigor lançado em 1985. O disco, que trazia em sua contracapa o quarteto vestido com uniformes do Exército, em meio a cadeiras de praia e raquetes de frescobol, achincalhando os militares, foi o primeiro álbum de ouro do rock nacional. De suas 11 músicas, pelo menos oito chegaram ao topo das paradas das rádios e até hoje são referência em algum aspecto – irreverência conceitual e letras sacaninhas entre eles. Pois, quem não lembra de "Inútil", "Marylou", "Ciúme" e "Eu Me Amo", pérolas criadas por Roger, Carlinhos, Maurício e Leôspa? Há quem não se lembre.

Pensando também nisso, a Po­­ly­­som, por meio da gravadora Deck­­disc, relança esse e outros ál­­buns históricos em sua versão original: um vinil de 180 gramas, bo­­lachudo, com encarte, letras e tu­­do mais a que os LPs têm direito. A Polysom é atualmente a única fá­­brica de vinis da América Latina. Localizada em Belfort Roxo, no Rio de Janeiro, fechou suas portas em outubro de 2007. Ano passado foi adquirida por sócios da Deckdisc, contratou 15 funcionários e a todo vapor retomou as atividades.

Se ano passado a otimista gravadora lançou em vinil álbuns de artistas como Pitty, Cachorro Grande, Nação Zumbi e Fernanda Takai, agora, além de Nós Vamos Invadir Sua Praia, coloca no mercado clássicos da discografia nacional como Africa Brasil e A Tábua de Esmeralda, de Jorge Ben; os raros Todos os Olhos e Estudando o Samba, de Tom Zé; os dois primeiros trabalhos da banda-fenômeno Secos e Molhados; além dos indiscutíveis Cabeça Dinossauro e Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas, dos Titãs. A nova-velha sa­­fra ganhou até um selo próprio, o "Clássicos em Vinil".

Os long-plays custam R$ 85. E ainda há compactos de bandas novas, como Volantes, Dilema e The Name, que saem por R$ 29,90. O preço não é o maior dos atrativos. Então qual é? "Temos sido surpreendidos pelo interesse de pessoas de quem não esperávamos a menor atenção. Uma bolha vai estourar no momento em que houver ofertas de toca-discos e bons títulos em vinil. Não se trata apenas de curiosidade. Quando as pessoas entram em contato com o som caloroso do vinil, imediatamente sentem o quanto a música digital roubou deles em qualidade", dispara João Augusto, presidente da Deckdisc.

Mercado

Em 2008, as vendas de discos de vinil nos Estados Unidos cresceram 89% em relação ao ano anterior – essa foi a última pesquisa revelada por uma revista norte-americana. As vendas de CDs, no entanto, tiveram queda de 8,5% no mesmo período nos Estados Unidos.

No Brasil, segundo dados da ABPD (Associação Brasileira de Produtores de Discos), houve inexpressivo crescimento de 1% na venda de CDs em relação a 2008. A entidade deixou de contabilizar dados referentes à fabricação e à venda de vinis alguns anos antes do fechamento da Polysom.

João Augusto enumera ao me­­nos três possíveis categorias de compradores que vão ouvir de novo – ou pela primeira vez –, o refrão "Mas eu me mordo de ciúme".

"Há o que chamamos de público ativo, um contingente que fala e briga pelo vinil com muita garra; outro que não se manifesta por falta de oferta; e um público que está conhecendo ou vai conhecer o formato e se apaixonar", relata o empresário. Será que o vinil vai invadir sua praia?

Serviço: Os discos podem ser encomendados pelos sites das livrarias Cultura (www.livrariacultura.com.br), Saraiva (www.livrariasaraiva.com.br) e pela loja 7 Polegadas (www.7polegadas.com.br).

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Interatividade

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