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Degraus da Vida: 28 composições, entre clássicos e raridades, relembram a obra de Nelson Cavaquinho | Reprodução
Degraus da Vida: 28 composições, entre clássicos e raridades, relembram a obra de Nelson Cavaquinho| Foto: Reprodução

Ao menos em sua obra, Nelson Cavaquinho (1911-1986) nunca foi muito fã da alegria. Se citava o carnaval, era para desconstruí-lo, como por exemplo em "Vou Partir" ( "Vou partir/ não sei se voltarei/ Tu não me queiras mal/ Hoje é carnaval"). Mas, no ano de seu centenário, o sambista carioca ganhou pelo menos duas ho­­menagens que o devolvem ao seu devido lugar de importância entre os grandes do gênero, mesmo com toda a melancolia que lhe é peculiar.

A primeira delas aconteceu no último domingo, com o desfile da Mangueira. A tradicional escola de samba compôs o enredo "O Filho Fiel, Sempre Mangueira", que carnavalizou a vida e a obra do sambista. A outra ho­­menagem chega agora em forma de disco duplo. Em edição caprichada, editada pela EMI, músicas consagradas de Cavaquinho e algumas outras canções raras, espécie de lado B de um sujeito que sempre flertou com as margens da sociedade carioca dos anos 50 e 60.

Degraus da Vida, idealizado e produzido pelo jornalista Rodrigo Faour, reúne 28 músicas. O primeiro disco relembra composições clássicas como "Folhas Secas", consagrada na voz de Beth Carvalho, grande divulgadora da arte de Nelson – ela é a intérprete que mais o gravou em vida, com 13 sambas em discos diferentes.

Clara Nunes surge inconfundível em "Minha Festa" ( do LP Clara Nunes, de 1973), e Dalva de Oliveira é a voz de "Palhaço", música gravada em 1951. A arrebatadora Elizeth Cardoso aparece em quatro faixas emblemáticas: "A Flor e o Espinho", "O Meu Pecado", "Vou Partir" e "Luz Negra", talvez a composição de Nelson – em parceria com Amâncio Cardoso – que mais reflita o estado de espírito desse carioca gauche. "Sempre só/ Eu vivo procurando alguém/ Que sofre como eu também/ E não consigo achar ninguém".

As surpresas vêm na sequência. As 14 faixas do segundo disco são os chamados "sambas guardados", composições menos conhecidas, mas nem por isso de menor valor. "Tenha Paciência" é um samba-lamento retirado do LP O Canto das 3 Raças (1976). Nele, Clara Nunes esbanja na in­­ terpretação. O pouco conhecido Germano Batista é a voz de "Deus Não Me Esqueceu", música gravada em 1969 e presente no LP Um Sambista 100%. Risadinha e Jurema, também dois intérpretes não muito conhecidos, cantam em "Cigarro" e "Sinal de Paz".

O segundo disco também revela um compositor e um le­­trista apavorado pela solidão e pela inevitável proximidade da morte.

Ao trazer uma minibiografia de Nelson Cavaquinho e uma pequena história de cada uma das composições, Degraus da Vida supera a ideia de compilar gravações do sambista. O disco veio para eternizar sua obra. GGGG

Serviço: Degraus da Vida. Nelson Cavaquinho 100 anos. Samba. EMI. R$29,90.

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