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Na estrofe final de "O Masoquista e o Fugitivo", Vanessa da Mata dá o recado que sintetiza o espírito de seu quarto disco: "Eu insisto em ser feliz." É assim: Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias se abre para o otimismo, mas faz disso um esforço. "Faça luz onde há involução", ela canta em "As Palavras". E, por baixo do entusiasmo, se ouve o coração apertado de quem deliberou contra a dor e dela fugiu conscientemente.

A propósito, "O Masoquista e o Fugitivo" é das canções que mais surpreendem entre as 12 deste disco, porque faz Vanessa da Mata soar como Los Hermanos. Deve ter sido obra de Kassin, que trabalhava com o grupo e produz o disco.

É uma influência pontual. Há outras, essas admitidas: Roberto Carlos, em "Palavras". Os Mutantes, em "Bolsa de Grife". Cassiano, em "Eu Te Amo". E a presença de Gilberto Gil desde os vocais ternos de "Quando Amanhecer". Enquanto isso, a apropriação da batida africana, que se mostra nos detalhes, não domina o disco.

No conjunto, Vanessa se mantém coerente soando como ela mesma, o que é sinal de personalidade autoral, ainda que comece a se repetir.

Continua uma compositora de frases longas e conversadas sobre o cotidiano e as dúvidas de amor. As letras podem não ser brilhantes, mas têm espontaneidade e o apelo imediato de um universo próximo e palpável. Nas melodias, algumas tensões enlaçam o ouvinte. Por exemplo, quando se abre para o drama em "Vá", parceria com Lokua Kanza.

De cara, não salta do disco nenhuma arrasa-audiências como eram "Ai, Ai, Ai" ou "Não Me Deixe Só." O que não significa que Vanessa não vá fazer a alegria das rádios. GGG

Serviço:

Bicicletas, Bolos e Outras Alegrias, de Vanessa da Mata. Sony Music. Preço médio: R$ 24,90.

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