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O desejo de escrever sobre si mesmo não é recente. Basta lembrar dos diários íntimos guardados na gaveta do criado mudo e das antigas agendas e cadernos de confidências com depoimentos dos amigos. Por isso, é cada vez mais comum saber detalhes íntimos de pessoas que nunca viremos a conhecer: saber para onde elas viajaram nas férias, como ficou o novo corte de cabelo ou quantos animais de estimação ela possui.

O álbum de fotografias, antes reservado ao âmbito privado, agora fica lá, à disposição de milhões de estranhos. "A exposição mútua de narrativas pessoais, fotografias e eventos de natureza particular nos sites de relacionamento virtual é um fenômeno que atende a essa demanda do indivíduo em investir em si mesmo, buscando no discurso do outro uma referência", explica a socióloga Aline Matos.

A exposição acaba servindo como uma forma de sociabilidade para as pessoas que procuram esse tipo de ferramenta. Estabelecer os próprios limites quanto ao que deve ou não ser exibido, cabe a cada indivíduo. "Uma coisa é você ser mais novo, não ter compromissos com quase nada e se postar, em seu perfil numa rede social, in­­formações pessoais, fotos de festas, de amigos bêbados, da garota que conheceu na última noite. Outra coisa é fazer isso quando você é um chefe de uma em­­presa, uma pessoa pública, e tem diversos deveres", compara o jornalista Tiago Dória.

Para Aline, os limites do "dizível" e do "mostrável" parecem alargar e cada vez mais em benefício do ganho de expressividade que os recursos de comunicação permitem. "Não se trata exatamente de uma perda da noção entre público e de privado, mas, sim, de um redimensionamento. Nesse caso, o direito à privacidade não se perde, se remodela: quanto mais investe em sua privacidade, mais o sujeito a tem como objeto passível de ser exibido."

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