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Mordida 1: o álbum de estreia de uma banda com oito anos de estrada | Reprodução
Mordida 1: o álbum de estreia de uma banda com oito anos de estrada| Foto: Reprodução

Você já tentou escrever ouvindo música bem alto? Bom, eu faço isso frequentemente. Já é quase um vício profissional para este espaço. Os maldosos (ou realistas) dirão que isso explica muita coisa a respeito do meu texto. Mas recomendo ao caro leitor que para ler estas mal traçadas também seja mordido por este costume e me acompanhe com a música alta. Se tiver acesso à internet, entre lá no site www.mordida.art.br, baixe ou escute on-line o disco da banda Mordida, sobre o qual discorro a partir de agora.

Numa visão geral, para situá-los, este é o primeiro álbum completo da banda que já tem oito anos de estrada e seis registros anteriores em EPs. Portanto, trata-se de um trabalho maduro do quarteto formado por Paulo de Nadal (composições, voz, guitarra, violão, efeitos e arte do disco), Ivan Rodrigues (bateria), Zé Ivan (baixo, voz e backing vocals) e Luiz Bodachne (guitarra). O disco tem ainda muitos colaboradores e a produção musical é da própria banda, em colaboração com Rogério Sabatela, na masterização e mixagem – que também toca guitarra, baixo e percussão em diferentes faixas.

A predominância é de um som que remete aos anos 80, ao período em que o rock brasileiro avançou sobre as rádios, as televisões e seus programas de auditório. Este álbum Mordida 1 tem deliciosos toques oitentistas que ora lembram Cazuza, ora remetem a Lobão – pelo vocal agradavelmente debochado de Paulo de Nadal – ou a Titãs e Paralamas do Sucesso – além de levadas de bateria e teclado relembrando o rock new wave dos B-52's.

Mas calma, apressado leitor, são apenas referências, saudáveis referências, para um disco absolutamente atual. E elas não param por aí, podemos recordar bandas gaúchas (também oitentistas e noventistas) e bandas paranaenses. Tem algo de blues e jazz. Uma mistura bem calibrada que deixa o disco entre o rock e o pop e totalmente dançável. De novo peço calma ao leitor para não cair na tentação dos rótulos.

Mordida 1 tem vários momentos e começa pelo libertário, com a ótima "Free Conection", que, apoiada em baixo e bateria, com teclado e guitarra um tanto sujos escoram uma letra direta: "Communication, communication/ Information, information/ Democratic appreciation/ Internet free/ free free free.../ Download free/ free free free".

A linha de fazer o ouvinte pensar sobre certos assuntos continua em outras músicas do disco, se insinua em meio a letras aparentemente banais, como na "Proibidão", que de uma maneira escrachada lista uma série de coisas proibidas na nossa vidinha de todo dia. Ou em "Boa Noite Cinderela", que questiona a imprensa.

Mas há os momentos românticos, os reflexivos, os divertidos. Há barulhos intencionais como tosses, risadas, latidos, que criam às vezes tensão, às vezes distensão.

O disco tem isso de parecer uma coisa simples, mas por dentro há muitas camadas sobrepostas que mostram um trabalho muito pensado e cuidado. No som, a aparência é de uma batida dançante facilmente absorvida por quem só quer se divertir, mas há filigranas sonoras, camadas que vão sendo percebidas na medida em que se vai ouvindo com atenção. Isso mostra que o disco foi construído arduamente para soar simples.

O mesmo acontece com as letras. De refrões grudentos e mais o jeito debochado do vocalista, elas têm muito de crônicas cotidianas, mas carregam também imagens poéticas, como "Bituca com batom/ sujeira emocional", na música "Boa Noite Cinderela"; ou "Até o azul do céu ficou blue comigo" e "você já virou minha falta de assunto", em "Previsível"; ou ainda "Que ilusão desconfiar das flores/ Fugir da sorte para não se arranhar", em "União Estável".

Músicas para tocar no rádio e em festas, mas também para escutar em diferentes volumes emocionais. Mordida parte agora para os shows de divulgação, o que também é uma ótima notícia para esta banda que sempre se deu bem sobre os palcos.

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