Acadêmicos da Realeza terá o dobro da verba, se depender de Ducci.| Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo
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As pedras pretas do Largo da Ordem estavam salpicadas de um vermelho sangue. O vento retirava confetes do teto de barracas da Feirinha que restavam no domingo à tarde. Os minúsculos pedaços de papel colorido sambavam no ar sobre as cabeças de zumbis e sambistas que dividiam o mesmo espaço.

A mulata de calça legging dois números menor do que pedia seu corpo se agitava em um entra e sai quase frenético do Memorial de Curitiba enquanto, visivelmente nervosa, aguardava o resultado da votação dos desfiles das escolas de samba da cidade. Ela não via a zumbi "ensanguentada" que carregava uma guitarra a tiracolo e usava a mão arrancada de outra criatura para tocá-la.

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Um pouco depois, um sambista revoltado, com o chapéu atravessado de lado na cabeça, sai do mesmo Memorial pisando firme e esbarra em outra zumbi, que tinha parte de um feto saindo da barriga entreaberta. Os dois se desculpam e sorriem tocando-se delicadamente as mãos.

O confete encontra o sangue fake.

Uma semana antes, também ali, uma multidão com o predomínio da roupa branca entoava antigas marchinhas comemorando a paz e a alegria.

Agora, um pouco mais acima, nas Ruínas de São Francisco, corpos ensanguentados, com carne e ossos expostos, tiram ruídos de instrumentos elétricos, comemorando a paz e a alegria.

Dentro do Memorial, carnavalescos tradicionais ficam nervosos com uma disputa que consumiu meses de trabalho e por alguns momentos esquecem que todo o esforço não era para ganhar um troféu, mas para cantar e dançar, construindo espaços de paz e alegria na vida de curitibanos.

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Em Curitiba há três manifestações culturais baseadas no feriadão de carnaval. A mais óbvia é o dia dos desfiles das escolas de samba, no Centro Cívico. Mas há ainda a pré-carnavalesca, com o bloco Garibaldis e Sacis, e o Psycho Carnival, festival de música no qual a Zombie Walk (marcha dos zumbis) está inserida.

Os zumbis não participam do desfile de escolas de samba de Curitiba, mas fazem parte do carnaval curitibano. O princípio de se fantasiar para cantar e dançar e ter alguns momentos de diversão é semelhante entre os carnavalescos e o bloco dos zumbis.

Todos têm o objetivo de divertir, de reunir pessoas e entretê-las por meio da música. Também o de repartir com essas pessoas tudo o que uma manifestação cultural pode proporcionar. A principal lição é a de que a cultura se vive no dia a dia. Se a ela se isola da população e não é conhecida e vivenciada, morre. Por isso, não pode viver trancada em pequenas salas. Só existe enquanto prática comunitária.

Para essas manifestações culturais de Curitiba funcionarem, no entanto, é preciso dedicação e organização. Para que a maioria se divirta, sempre tem uns poucos que dão um duro danado para organizar tudo. Meus respeitos a essas pessoas que fizeram tantos se divertir neste carnaval.

Paranatimbum

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Parabéns à iniciativa da E-Paraná, a Rádio e Televisão Educativa do Paraná, pela transmissão do carnaval em várias partes do estado, notadamente em Curitiba, Litoral e Tibagi. Ainda há algumas falhas, como, por exemplo, o excesso de cortes de um lugar para o outro. Não precisa tanto. Por vezes, está sendo mostrado algo legal e corta-se na metade para mostrar uma entrevista nada interessante com alguém menos interessante ainda. Essa "picotagem" não acrescenta nada. Mas é um problema menor e fácil de ser corrigido dentro da boa iniciativa de se mostrar nossas manifestações culturais.

Os números

Em seguidos domingos de janeiro e fevereiro, o bloco pré-carnavalesco Garibaldis e Sacis colocou, a cada vez, entre 5 mil e 10 mil pessoas para se divertir no Largo da Ordem.

A marcha dos zumbis ultrapassou a estimativa dos organizadores, que era de reunir 2,5 mil pessoas.

Perto de 20 mil pessoas compareceram ao Centro Cívico para assistir aos desfiles das escolas de samba.

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Cerca de 200 mil pessoas seguiram os trios elétricos da Matimbanda e da Caiobanda no Litoral.

Tibagi, cidade do interior com 20 mil habitantes, recebe 80 mil turistas no carnaval.