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 | Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Ricardo Humberto/Especial para a Gazeta do Povo

O professor doutor Maurício Mendonça Cardozo foi o responsável pela criação, pela implantação, e há mais de dez anos é o maior responsável pela manutenção do bacharelado em estudos da tradução na UFPR, que, acredite em mim, mudou o mapa literário da cidade. E muito.

O poeta Maurício Cardozo há anos fazia circular sua produção entre poucos e privilegiados amigos.

O Maurício é meu amigo. Sim, mas não usem isso contra ele.

Agora, aos 44 anos de idade, ele lança seu primeiro livro de poemas, chamado justamente “Quarentaequatro”, pela editora carioca Circuito.

Não é sempre que eu leio poesia. Poesia, a boa poesia, é coisa densa. Coisa trabalhosa. E eu sou preguiçoso. Mas, como a gente aprende desde pequeno, há coisas trabalhosas que sabem compensar o nosso esforço na mesma proporção.

A poesia do Mauricio é densa. É cheia de ideias. E, pra ficar ainda mais densa, ela insiste em expor essas ideias complexas (sobre a linguagem, o tempo, o amor) de maneiras parciais, fraturadas, enviesadas. E isso deixa cada poema, cada verso ainda mais poderoso.

Eu sei que já falei disso aqui, mas eu vejo uma verdade imensa no verso de Emily Dickinson que diz “Conte a verdade toda, mas conte de canto”, conte torto, conte refratado. Outra poeta, a canadense contemporânea Anne Carson tem um texto lindo sobre versos que resistem a uma interpretação clara, unívoca, e que por isso mesmo são mais encantadores.

A poesia do Maurício (que desta vez eu só li em livro) me encheu, por isso mesmo, de uma alegria imensa.

Além do mais, ele, que também teve formação de músico, conseguiu escrever um livro que, além de ser “um livro de poesia” (e não um amontoado de poemas recolhidos), tem uma estrutura quase sinfônica: os temas, as ideias, vão se sucedendo, caleidoscopicamente, e você passa dos primeiros poemas, sobre o mistério do sentido das palavras, para os últimos, quase carnalmente eróticos, numa viagem lenta e progressiva em que cada ideia se funde na seguinte.

E essa formação, esse ouvido, ainda gera uns versos de uma sonoridade belíssima, mas também longe de óbvia. É no ruído, no imprevisto que se faz a música desses poemas. Na palavra de surpresa. No duplo sentido cravado e escondido ali dentro (presta atenção no que ele faz com a palavra “cesura” num dos últimos poemas).

É feio dizer vá atrás do livro do Maurício, assim, numa crônica de fim de semana?

Então eu sou feio.

Mas o livro é muito lindo.

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