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Ótimo LP do Tremendão deu e ainda dá o que falar | Reprodução
Ótimo LP do Tremendão deu e ainda dá o que falar| Foto: Reprodução

Dia desses, o Rafael, colega de bancada, disse que ouviu o último disco de Erasmo Carlos no Rdio, serviço de música on-line e espécie de jukebox dos tempos modernos. Achei graça. Diferente de seu amigo mais romântico e quase ex-vegetariano, o Tremendão, hoje aos 72 anos, sempre soube se atualizar. Em tudo, principalmente na música. O Rdio disponibilizou o álbum de Erasmo algumas semanas antes do lançamento em CD, objeto-limbo que nunca chegou perto do charme substancial do vinil e, hoje, passa longe da praticidade das músicas a um clique.

Rebobina: Erasmo tem um LP espetacular chamado Sonhos e Memórias, lançado em 1972 pela Polydor. Lá estão músicas irretocáveis como "Largo da Segunda-Feira", "Sorriso Dela" e "Sábado Morto". Na capa do álbum – que hoje aparece pequenina no meu iPod – há fotos de Elvis, Jimi Hendrix, John Lennon, além de um violão surrado, um símbolo anarquista, borboletas e uma tevê setentista. Tudo em uma aleatoriedade de cores que, se não é propriamente um exemplo estético, é memorável à sua maneira. O contexto do LP, sua alma, reside também aí, o que é algo inalcançável para quem ouve Tremendão no compact disc ou no Rdio

O disco – LP ou CD – extrai apenas uma parcela das diversas sensações e acontecimentos que se passam no estúdio de gravação. Por isso ele é naturalmente limitado. A forma mais prática de recuperar esses sentimentos é dar vida à arte que o acompanha. O problema é que, do ponto de vista gráfico, capas e encartes de CDs não passam, na maioria dos casos, de capas e encartes de LPs reduzidos. Porque existe um comparativo consagrado – a arte do LP –, sua versão minimizada não encanta. Quando ousam, em edições especiais ou relançamentos, os encartes se assemelham mais a livros do que a qualquer outra coisa. E, pelo mesmo motivo, também saem perdendo.

Mas a princípio está tudo muito bem. Porque em uma sociedade extremamente consumista, a apreciação torna-se resistência ou exotismo, sabemos – saia do sebo com um vinil do Erasmo e veja se não te olham com cara de quem está vestindo uma camisa de força. Mas, enfim, o bolachão resiste porque foi consagrado.

O CD agoniza e tenta se sustentar devido à sua organização faix a faixa e seu preço, relativamente barato. A "nuvem" se populariza, e nela as músicas experimentam uma certa anarquia individual, em que a ordem de execução depende exclusivamente do ouvinte. Perde-se definitivamente o conceito de álbum, de narrativa musical. Tudo, enfim, se desmancha. Desculpem a chatice. É que hoje tem show do Tremendão e, por esses dias, ouvi Sonhos e Memórias em LP. Aí fiquei pensando nisso tudo.

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