• Carregando...

O menininho chega pertinho da menininha no parquinho e fala baixinho:

– Posso mexer na sua coisinha?

A menininha olha o menininho com seus olhinhos tão bonitinhos e diz claro que pode:

– Mas depois eu também vou mexer na sua coisinha.

Ele pega a coisinha dela e mexe que mexe, aí pergunta:

– Como que faz pra fotar?

Ela pega a coisinha, estica o braço e bate uma fotografia dos dois. Depois pega a coisinha dele e pergunta se toca música, ele mostra como, ficam ouvindo a musiquinha.

Então a coisinha toca, toca, mas ele não atende, ela pergunta se não vai atender. Ele diz que não:

– Deve ser minha mãe enchendo o saco.

Ela diz que a mãe dela obriga a atender.

– Mas é um di-rei-to seu não atender – ele fala soletrando bem as palavras para não errar, ela balança a cabeça concordando:

– Meus pais são a-tra-sa-dos.

– É... – ele balança a cabeça filosoficamente – Bem que dizem que o futuro somos nós. Vamos fazer tudo diferente.

Ela concorda, olhando para ele com admiração. Então outro menininho se aproxima e olha as coisinhas deles, tão pequenas que ficam penduradas em cordões no pescoço.

– Você não tem? – ela pergunta e o segundo menininho baixa os olhos:

– Meu pai diz que não preciso.

Eles ficam olhando com piedade o menininho sem sua coisinha, enquanto a musiquinha toca humilhando. O menininho continua olhando os pés, a boca em bico, até que ela consola:

– Não fica assim. Seu pai é um... como é mesmo? Um didor!

– Um ditador – corrige o outro menininho.

Ela põe a mão no ombro do menininho sem coisinha:

– Não fica triste, quando a gente crescer vai ser tudo diferente.

Então o primeiro menininho aumenta o volume da música, deixando o outro ver a foto dele com a menininha, e o outro agacha, fingindo brincar com a areia.

Outra menininha chama, a menininha se afasta. O primeiro menininho pergunta com voz casual:

– Ela é bonita, né?

O outro concorda, balançando a cabeça e olhando a menininha com devoção.

– Mas é minha namorada – diz o primeiro menininho – Entendeu?

O outro só balança a cabeça, e também se afasta de cabeça baixa. A menininha volta.

– Onde ele foi?

– Não sei. Falou mal de você, mandei ele embora.

Ela bota as mãos nos quadris com os olhinhos se estreitando:

– Que que ele falou de mim?

– Deixa pra lá.

– Não, quero saber!

Ele suspira adulto, como se lhe custasse contar:

– Ele disse que você é boba.

Ela solta um bafo de fúria infantil.

– Bobo é ele!

– Mas não foi por isso que eu mandei ele embora. Foi porque ele falou que você é feia.

Ela deixa cair os braços, a boca abrindo mole de espanto, até que consegue falar:

– Ele... falou que eu sou... feia?!

Ele balança a cabeça tristemente, depois pega a mão dela:

– Mas eu não acho. Acho você bonita.

Ela sorri lhe apertando a mão.

O outro olha de longe, volta a baixar a cabeça, vai embora chutando uma pedra pela rua.

A outra menininha chega perto, ela conta:

– Tá vendo aquele lá? Falou que nós somos feias!

A outra, também com olhinhos estreitos de ódio, olha o outro lá chutando pedra, e o menininho diz que não devem ligar pra ele, é um invejoso, é uma criança, e elas olham para ele agradecidas, ele enche o peito como um homenzinho.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]