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Sindicalista, espinafrando crônica anterior, envia e-mail lamentando que eu tenha perdido a noção de luta de classes. Respondi a ele que me alegro por desacreditar disso desde 1971, quando fui o primeiro dentre vários companheiros a enxergar claro na névoa do fanatismo esquerdista.

Queríamos derrubar a ditadura militar para implantar a ditadura do proletariado comunista, mas aí me toquei: seria apenas outra ditadura, e, embora cursasse universidade onde vicejavam as utopias de esquerda, eu sofria censura como jornalista. Deixaria de ser estudante, mas continuaria a ser jornalista e, se vingasse a ditadura comunista, continuaria a sofrer censura, determinada por um único partido político. Preferi apostar na democracia, com todos os seus defeitos.

Além disso, a luta de classes, mola mestra da utopia comunista, falha já na base genética: não nascemos ricos ou pobres porque queremos ou por castigo, mas pela conjuntura da teia de casamentos ou cruzamentos de nossos antepassados, regida por coincidências, acasos, imprevistos e desastres.

Minha mãe conheceu meu pai porque ele foi o moço que, na Londrina barrenta de 1944, ajudou ela a sair de um buraco para poste, onde caiu porque passava de nariz erguido a fingir que não via os moços enfileirados paquerando as moças que passavam...

Conheço tantos pobres que deixaram de ser pobres, trabalhando, quanto ricos herdeiros que deixaram de ser ricos porque só sabiam gastar a herança.

Com a queda do Muro de Berlim, não caiu apenas o socialismo autoritário, mas também o capitalismo selvagem. Hoje, uma empresa capitalista tem mais respeito, na prática, pelas pessoas que nela trabalham ou consomem seus produtos ou serviços, do que o governo socialista de Cuba tem na prática pelo povo cubano.

Hoje, a empresa que não tiver responsabilidade social e ambiental, quebra, como quebraram os regimes socialistas. Aliás, se o capitalismo vitimou trabalhadores com flagelos como a escravidão e a fome, o socialismo vitimou trabalhadores com flagelos como a escravidão e a fome. Ou conforme aquele velho ditado tão cínico quanto verdadeiro: o capitalismo é a exploração do homem pelo homem, e o socialismo é o contrário...

Mas, dizem os esquerdistas, Cuba vive na miséria porque sofre o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos. Ora, Cuba vive na miséria porque insistiu em exportar seu modelo de ditadura para a América Latina e até para a África, aliás sempre fracassando. E queria que os Estados Unidos ficassem olhando quietinhos? Santa ingenuidade.

Lamentar a ditadura cubana não me faz adepto do imperialismo norte-americano, que aliás vai acabando também cinicamente. Apoiou as ditaduras árabes enquanto lhe foi conveniente, e agora apoia as revoltas populares para continuar a sugar petróleo barato de lá. Sim, barato, pois o petróleo fica caro mesmo é depois de refinado pelas companhias petrolíferas, que não são árabes, são norte-americanas, inglesas...

Acredito, senhor sindicalista (portanto vivendo à custa do trabalho dos colegas como os empresários e os banqueiros), que os regimes políticos devem taxar as fortunas, sim, mas de modo a não matar os empreendimentos. E os pobres devem ser apoiados e estimulados a progredir, sim, mas não de modo a criar dependência de programas e esmolas oficiais.

Acredito mesmo é naquilo que pregava Celso Garcia Cid:

– Meu sucesso é devido ao tesão pelo trabalho! E, com os amigos, posso tudo!

Em vez de luta de classes, creio na união de empresários e trabalhadores, na socialização das empresas, na iniciativa e visão dos autônomos, na força do cooperativismo, no aprimoramento da democracia e na melhoria do ser humano abolindo a violência. Ou, conforme o epitáfio do poeta Otoniel Santos Pereira:

Amem.

Amém.

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