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 | Miguel Nicolau/Especial para a Gazeta do Povo
| Foto: Miguel Nicolau/Especial para a Gazeta do Povo

Um dos grandes momentos da era das mídias sociais é a hora de ver as fotos pós-parto do bebê recém-nascido de um mal resolvido amor do passado. Um ser dado à luz por um processo do qual você não participou nem de longe, mas outro sujeito que também aparece orgulhoso no quadro. De pronto irrompe, o sentimento que move o mundo: o ciúme patológico.

Moe. Dói. Rói. E dura até um segundo instante quando é superado por um tipo particular de alívio. “Ao menos, escapei desta”, roga o conjunto mente e espírito, ele que sempre tenta tirar o corpo fora. Esta fase também é a de examinar o passado e lembrar das chances, riscos e (ou) tentativas frustradas de fecundação que soem ter acontecido. E ainda como cada lado daquele casal que nunca mais vai existir se sentia sobre o tema ao descer a vertiginosa ladeira do romance.

Do tanto que sei da vida, acho que estes dois tempos se ouvem na música de qualquer sujeito, do gênio ao pobre diabo. Dali por diante é cada um por si. Tudo, me parece, depende muito da identidade do novo pai. Caso o cara consiga ser um traste pior que você, há chance de surgir um sentimento altruísta, quase heroico; cúmplice da maternidade ameaçada: “Foda-se, vem cá que eu ajudo a criar esta criança. Ela não merece ter um pai que usa o boné pro lado”.

Mas, este arroubo passa rápido, podem saber. E é preciso ser atento e forte, para que o ciúme egoísta na sua variante mais cruel, (o desprezo) não mostre logo a cara. Problema mesmo é se o cara tiver mais títulos acadêmicos, inteligência, notoriedade, cargos, influência, berço, carisma, cabelos, bons dentes e grana que você. Qualquer uma destas coisas ou até todas ao mesmo tempo. Tanto faz. O gongo invejoso da derrota só se acalma com algum conhaque.

A única cura possível, a experiência aponta, só existe, vejam os senhores, na velha magia negra do amor. Não a ilusão da volta, pois “o amor que morre é uma ilusão. E uma ilusão deve morrer”, dizia o bom samba. Nem o amor rasgado que nos faz de palhaço e que já passou. O pouco que sobrou (se houve mesmo, sempre sobra), é o que nos importa aqui.

Pois o amor também sabe ser justo como uma mãe com pouco dinheiro. Ele vai te lembrar de que faltou cartola de onde sacar esta lebre. Não foi culpa sua, nem dela. De ninguém. Aliás, provavelmente isto tudo foi posto à mesa de debates no dia do juízo, junto com outras qualidades, suas e dela, que os tornavam então reciprocamente insuportáveis.

E mesmo se você tivesse seguido o conselho daquele amigo que vive em pecado, mas tem arroubos cristãos e dizia sempre: “Faça um filho em cada mulher que você amar”, você as teria obrigado, mãe e criança, a serem coadjuvantes desta pornochanchada que é tua vida. Quem ama, não faz isso. Parece bobagem, mas a ventura dos outros é mesmo a nossa verdadeira alegria. E, cá pra nós, é preciso admitir que o piá até que é bonitinho.

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