| Foto: Felipe Lima

Se nunca mais comprar um livro de papel, por mim, tudo bem. Jamais pensei que escreveria isso, mas é o que acabo de fazer. E é verdade. Livros sempre tiveram um papel importante na minha vida. Na verdade, continuam tendo, mas não precisam mais ser de papel.

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Em geral, quem gosta de livros gosta do objeto livro. Gosta de folhear, cheirar, dobrar e rabiscar. De colocar na estante, de exibir e de apreciar. Eu também gosto disso tudo, mas descobri que gosto muito, muito do meu leitor digital.

Comprei o aparelho há mais ou menos um mês porque não resisto a uma barganha. Um desconto descomunal me convenceu rápido. Porém, desconfiado, levei uma semana para tirar a traquitana da caixa e outras duas para apertar o "on".

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Há uma semana, como bom germânico e neto do meu avô, li todo o manual e conversei com amigos que também têm o aparelho para pegar dicas e sugestões. Já havia ligado o dito-cujo porque o manual vem nele, mas ainda não havia fuçado os botões para ver o que acontecia.

O meu aparelho é a versão menor do fabricante e tem uma tela de seis polegadas que imita papel. Dá para explicar esse "imita papel" – dizendo que a tela é fosca, não tem brilho, não é como a de um computador –, mas, pelo que vi ao mostrar o aparelho por aí, imaginar a tela não consegue evitar que as pessoas se surpreendam diante de uma. "Parece mesmo papel" é o comentário que fazem.

Na tela, uma "tinta eletrônica" (ou e-ink) é acionada, enfim, eletronicamente, para formar a página. E o resultado para a leitura é muito bom. Tão confortável quanto um papel pólen. Um dos objetivos dos fabricantes é fazer você "esquecer que está lendo um livro eletrônico".

Posso estar escrevendo um monte de coisas conhecidas por muitos, mas nunca ninguém me explicou o leitor digital assim, falando de detalhes simples.

Dia desses, eu derramei café no aparelho. Ainda bem que foi pouco e caiu em cima da capa protetora – aproveitei o desconto que tive e comprei uma, de couro, muito simpática. Dá para argumentar que o café destruiria também um livro de papel, mas talvez não a ponto de torná-lo ilegível. De qualquer forma, o fato de ser um aparelho que funciona com bateria e precisa ser carregado de vez em quando pode ser um defeito em certos casos.

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Ah, o cheiro. Se você considera indispensável sentir o cheiro do livro físico – papel, tinta e cola –, certamente não vai se satisfazer com o leitor digital – plástico e couro (opcional).

Um dos recursos que mais me interessaram no leitor digital é a possibilidade de enviar arquivos por e-mail para o aparelho. Se estou lendo algo interessante na internet, tenho a opção de criar um arquivo de texto e enviá-lo para o aparelho. Não quero ler no computador, o que pode ser cansativo, e não imprimo em papel, fazendo uma economia considerável.

Há inclusive um site chamado Instapaper. Você se cadastra nele, de graça, e instala um botão na barra do navegador da internet. Para enviar o texto da internet para o leitor digital, é só clicar no botão. Mas eu estou divagando.

Carregar livros em mochilas durante anos me ajudou a desenvolver bursite nos dois ombros. Hoje, mochilas pesadas estão proibidas e devo fazer fisioterapia por muito mais tempo do que gostaria. Talvez venha daí um pouco da minha má vontade com os livros de papel e da minha simpatia pelo digital.

O aparelho tem um visual retrô que me agrada – graças à tela fosca preta e branca –, é do tamanho de um volume com pouco mais de cem páginas e, de acordo com o fabricante, memória para 3,5 mil títulos. É, além de tudo, ortopédico.

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