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Cesar Almeida na poltrona high-tech que serviu de divã | Filipe Almeida/Divulgação
Cesar Almeida na poltrona high-tech que serviu de divã| Foto: Filipe Almeida/Divulgação

Interatividade

Você já foi a uma peça ou show em que alguém da plateia se manifestou?

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Os grupos de teatro sempre dizem que dão a cara para bater lá no palco em busca da identificação com a plateia. Se alguém se sentir tocado pelo texto, cenário, encenação, seja o que for que detone a faísca de empatia, ótimo, trabalho cumprido.

A questão é: o que fazer se alguém se identificar tanto a ponto de começar a interagir com a peça? Aconteceu na estreia de Hamlet(ego)Trash, espetáculo da trintona Cia. das 2 Cabeças, de Cesar Almeida. Além dele, estava no palco do Teatro Experimental da UFPR a atriz Maite Schneider. A plateia, lotada, com gente pelo chão.

Logo no começo, quando, nessa versão enlouquecida da tragédia de Shakespeare, Ofélia começou seu primeiro insinuante solilóquio, um sujeito na primeira fila não se conteve. Descascou a personagem, muito saidinha para seu gosto. Que parasse de apertar os peitos, podia deformar o silicone.

Quando da décima manifestação, a dupla de atores percebeu que daquele jeito não dava e convidou o respeitável espectador ao palco. Ele aceitou.

No centro da cena, uma poltrona high-tech fez as vezes de divã para que o rapaz contasse um pouco de si. Curiosamente, tinha a ver com a morte de seu pai, assim como o texto falava, numa releitura, do drama do assassinato do Rei Hamlet e a imposição da vingança sobre o príncipe atormentado, dividido entre um mundo medieval e um nascente Renascimento humanista.

Quando todos os presentes ao teatro já acreditavam se tratar de uma participação meticulosamente ensaiada, o ator debutante foi reenviado a seu lugar. A peça continuou, modificada para sempre.

(Para tirar a dúvida, perguntei ao final se aquilo fazia parte. Não, não fazia.)

Se aqui a quarta parede foi detonada com a potência de 30 bananas de dinamite, outros grupos precisam se esforçar para sintonizar o canal dos corações e mentes de quem os assiste.

E essa premissa faz parte da coluna vertebral de alguns espetáculos, como é o caso de O Espelho, que estará em cartaz dentro da grade oficial do Festival de Teatro, dias 30 e 31 de março. Em pleno Bosque do Papa, uma mesa terá cafezinho com bolo para 15 privilegiados, no que se assemelha a uma conversa de roda.

Em meio às falas dos integrantes do grupo (o paulistano opovoempé), a plateia é estimulada a costurar comentários a seu bel prazer. Ainda há ingressos à venda.

Muita gente reclama do teatro porque tem receio de acabar numa peça "interativa", com um palhaço no colo, um microfone na boca ou sobre o palco obrigado a fazer alguma performance. Na verdade, a maior parte dos artistas tem o maior cuidado para não expor seu espectador – sua razão de existir.

Como diz Fagner Zadra, o "curitibano polaco" do stand-up Tesão Piá! (na verdade, um gaúcho): "A gente sempre percebe quem tá a fim de participar".

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