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Richard Nixon: reeleito, foi obrigado a renunciar em meio a denúncias graves que cercaram seu derradeiro mandato. | CLH/HK/HO
Richard Nixon: reeleito, foi obrigado a renunciar em meio a denúncias graves que cercaram seu derradeiro mandato.| Foto: CLH/HK/HO

Casos célebres de grande turbulência política mostram que a atuação da imprensa teve papel fundamental – por vezes, decisivo – em rupturas de poder que mudaram a história.

A atuação da equipe de reportagem do jornal The Washington Post iniciada no caso conhecido como “Watergate” culminou com a renúncia do presidente Richard Nixon em 1974. No Brasil, um grande conjunto de reportagens entre 1991 e 1992 levou à abertura de um processo de impeachment e à posterior renúncia do presidente Fernando Collor. Os dois marcos na atuação da imprensa investigativa redefiniram a figura do jornalista na avaliação de Eugenio Bucci, professor da escola de Comunicação da USP.

O caso americano está retratado no livro Todos Os Homens do Presidente (Ed. Três Estrelas), escrito pela dupla de repórteres Bob Woodward e Carl Bernstein, que revelaram o escândalo Watergate.

Autor do prefácio da edição brasileira do livro, Bucci ressalta que a imprensa pode ter deflagrado o processo, mas “é bom ter em mente que as questões foram analisadas em diferentes âmbitos: na Justiça, no Congresso e pela sociedade civil. Aí sim se criou um processo amplo que decretou a renúncia de Nixon, mais de dois anos depois da primeira reportagem”.

“Os homens do presidente foram para os tribunais. Não foram só as páginas do jornal que lideraram o processo”, ressalta.

Checagem exaustiva

Não foi apenas um momento definidor para o jornalismo investigativo, até porque este já existia. “Foi a consagração de um modelo baseado em checagem exaustiva e outros cuidados que só puderam ser tomados em uma redação de quase mil pessoas e cheia de profissionais experientes”, afirma Bucci.

O professor da USP aponta para a repetição deste momento “glorioso” no Brasil, 20 anos depois, com os trabalhos que culminaram no até então inédito processo de impeachment votado pelo Congresso contra um presidente do país.

O livro Notícias do Planalto (Cia. Das Letras), publicado em 1999 pelo ex-diretor de redação da revista Veja Mario Sergio Conti, é o relato mais denso sobre como os jornalistas se relacionavam com o poder político no período.

É a economia

Gilberto Maringoni, doutor em História pela USP e professor da Faculdade Cásper Líbero, diz que a mobilização popular nascida a partir da cobertura investigativa da imprensa, que levou ao impeachment, teve dois ingredientes principais: a crise econômica com a volta da inflação e a facilidade da população no entendimento do escândalo.

“Às vezes a corrupção é abstrata: remessas de dólares, contas offshore e essas coisas. Naquele caso, não; havia contornos visíveis: um Fiat Elba, a reforma da casa, a briga entre irmãos, a compra de roupas íntimas para a primeira-dama com cheques do PC Farias e o suposto adultério com a linda cunhada Thereza Collor. O povo se interessou.”

Ele lembra que a CPI que investigou o caso foi acompanhada como uma novela, um “reality show político” que a imprensa soube explorar.

Vanguarda

Responsável pelo conteúdo editorial do grupo RBS, o jornalista Marcelo Rech escreveu em artigo publicado na última quinta-feira (14), no jornal Zero Hora, que “a imprensa assumiu em 1992 a vanguarda das investigações contra Collor, iniciadas com uma bombástica entrevista de seu irmão à Veja e sustentadas por vazamentos quase diários nos jornais de cheques e extratos bancários, além de depoimentos de figuras-chave localizadas por repórteres”.

Papel central

Ele aponta que Ministério Público e a Polícia Federal eram apenas coadjuvantes discretos, e o Supremo Tribunal Federal (STF), um tribunal pouco conhecido. O grande centro das atenções era a CPI do Congresso, que distribuía denúncias por turno e ecoava as investigações de jornais, revistas e TVs.

Para Eugenio Bucci, este aspecto é a diferença fundamental na cobertura da atual crise política que resultou na votação do último domingo (17) . “O grosso das informações veio do trabalho da Policia Federal, Ministério Público, cooperação internacional de órgãos de investigação que não ocorreram no passado. A imprensa teve o trabalho de processá-las, mas é claro que muita investigação que fere o interesse do poder também foi feita”, conclui.

A atuação da equipe de reportagem do jornal Washignton Post iniciada em 1972 no caso conhecido como “Watergate” que culminou com a renuncia do presidente Richard Nixon em 1974 e um grande conjunto de reportagens de diferentes órgãos da imprensa brasileira entre 1991 e 1992 que levaram a abertura de processo de impeachment e posterior renuncia do presidente Fernando Collor mostram dois picos na atuação da imprensa investigativa que redefiniram a figura do jornalista na avaliação de Eugenio Bucci, professor da escola de Comunicação da USP.

O caso americano está retratado no livro Todos Os Homens do Presidente (Três Estrelas) escrito pelos repórteres que capitanearam as investigações Bob Woodward e Carl Bernstein.

Autor do prefácio da edição brasileira do livro, Bucci ressalta que imprensa pode ter deflagrado o processo, mas “é bom ter em mente as questões foram analisadas em diferentes âmbitos: na Justiça, no congresso ao que se somou e indignação da sociedade civil para criar um processo amplo que, este sim, decretou, mais de dois anos depois da primeira reportagem”.

“Os homens do presidente foram para os tribunais. Não foram só as paginas do jornal que lideraram o processo”, ressalta.

Algo que, no entanto não impediu que o caso se tornasse marco no jornalismo. “Não foi a invenção da reportagem investiga que já existia, mas foi a consagração de um modelo baseado em checagem exaustiva e outros cuidados que só puderam ser tomados em uma redação de quase mil pessoas e cheia de profissionais experientes, disse.

Bucci aponta para a repetição deste momento “glorioso” no Brasil, vinte anos depois com os trabalhos que culminaram no até então inédito e (e até então único) processo de impeachment aprovado pelo Congresso contra um presidente do país.

O livro Notícias do Planalto (Cia. Das Letras) publicado em 1999 pelo ex-diretor de redação da revista Veja é o relato mais denso sobre como os jornalistas se relacionavam com o poder político no período.

O historiador Gilberto Maringoni, doutor em História pela USP e professor da Faculdade Cásper Líbero disse em entrevista a Gazeta do Povo quando o caso Collor completou vinte anos que a mobilização popular nascida a partir da cobertura investigativa da imprensa, que levou ao impeachment, teve dois ingredientes principais: a crise econômica com a volta da inflação e a facilidade da população entender o escândalo.

“Às vezes a corrupção é abstrata: remessas de dólares, contas offshore e essas coisas. Naquele caso, não; havia contornos visíveis: um Fiat Elba, a reforma da casa, a briga entre irmãos, a compra de roupas íntimas para a primeira-dama com cheques do PC e o suposto adultério com a linda cunhada Thereza Collor. O povo se interessou: ‘Tem sacanagem aí’.” Ele lembra que a CPI que investigou o caso foi acompanhada como uma novela, um “reality show político” que a imprensa soube explorar.

Vanguarda

Responsável pelo conteúdo editorial do grupo RBS , o jornalista Marcelo Rech escreveu em artigo publicado na ultima quinta-feira (14) no jornal Zero Hora que “a imprensa assumiu em 1992 a vanguarda das investigações contra Collor, iniciadas com uma bombástica entrevista de seu irmão à Veja e sustentadas por vazamentos quase diários nos jornais de cheques e extratos bancários, além de depoimentos de figuras-chave localizadas por repórteres”.

Ele aponta que Ministério Público e a Polícia Federal eram apenas coadjuvantes discretos, e o Supremo Tribunal Federal (STF), um tribunal pouco conhecido. O grande centro das atenções era a CPI do Congresso, que distribuía denúncias por turno e ecoava as investigações de jornais, revistas e TVs.

Para Eugenio Bucci, este aspecto é a diferença fundamental na cobertura da atual crise politica que resultou na votação do último domingo (17) . “O grosso das informações veio do trabalho da Policia Federal, Ministério Público, cooperação internacional de órgãos de investigação que não ocorreram no passado. A imprensa teve o trabalho de processá-las, mas é claro que muita investigação que fere o interesse do poder também foi feita”, conclui.

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