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Pellanda: “encantamento comum aos conterrâneos” | Matheus Dias/Gazeta do Povo
Pellanda: “encantamento comum aos conterrâneos”| Foto: Matheus Dias/Gazeta do Povo
  • Livro: Ficcionais – Escritores Revelam o Ato de Forjar Seus Mundos. Vários autores. Organização de Schenider Carpeggiani. Companhia Editora de Pernambuco, 111 págs., R$ 15. À venda na Livraria Cultura (Shopping Curitiba – R. Brigadeiro Franco, 2.300, Loja 306), (41) 3941-0292

O processo de criação dos escritores, em regra, é um mistério para os leitores. Mesmo que alguns até deixem algumas pistas, quem manuseia o livro pronto não sabe como nasceu a ideia que virou texto ou quanto da ficção é a realidade do autor ou de alguém próximo a ele.

Nem sabe, por exemplo, que o escritor quase abandonou o livro porque teve um bloqueio criativo, que o nome da personagem é o de uma amiga do autor ou quantas revisões foram necessárias até a prova final.

No livro Ficcionais – Escritores Revelam o Ato de Forjar Seus Mundos, esse universo desconhecido é, em parte, revelado. Trinta e dois autores relevantes da prosa, poesia e tradução contemporâneas contam a partir de qual barro construíram suas ficções e textos.

O livro foi lançado em comemoração aos cinco anos do Suplemento Pernambuco, uma revista literária publicada pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe).

Nela, equivalente ao paranaense Cândido, foram publicadas as crônicas em que escritores como Bernardo Carvalho, Eliane Brum, Daniel Galera, Michel Laub, Marcelino Freire e o curitibano Luiz Henrique Pellanda, revelam o processo de escrita de um livro específico.

"É uma espécie de 3x4 do momento de criação. Todo mês peço a um autor para escrever sobre seu processo, de uma maneira bastante livre, mas sempre com a primeira pessoa como guia", explica o organizador do livro e editor pernambucano Schneider Carpegiani.

Para ele, o livro é, no fundo, um "pequeno manifesto contra esse estatuto bobo que é a verdade". "Vivemos num mundo em que a performance da verdade é o que importa, com os reality shows e as redes sociais. O problema é que as pessoas esquecem que tudo é performance", disse.

Schneider conta que, em princípio, achou que o livro seria especialmente usado por estudantes ou "para quem está interessado em flagrar esse tal de zero grau da escrita". Ao reler textos para organizar o livro, percebeu mérito maior em reunir os nomes na ativa, com destaque na cena nacional, para fazer "ficção sobre escrever ficção". "Você pode ler o livro para entender a ficção; eu leio porque acredito que tudo é ficção".

"Mar castanho"

Alguns dos autores narram aspectos mais práticos de sua escrita – curioso notar em quão alta conta alguns deles colocam o próprio trabalho. Outros, como Pellanda, preferem as circunstâncias metafísicas e geográficas de sua criação.

Ele conta que escreveu os contos de O Macaco Orna­mental (Bertrand Brasil, 2009) ilhado pelas "marolas sujas e castanhas" do litoral paranense e acossado por um sentimento – comum aos conterrâneos – "de querer atirar-se ao mar, ganhar novos mundos", mas confinado a "uma torre erigida sobre as bases de um ambíguo sentimento de permanência".

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