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| Foto: Marcelo Andrade/Divulgação

Pense em dois gigantes da música brasileira. Dois músicos negros, instrumentistas brilhantes, conectados com seu tempo e sua história.

Waltel Branco é o maestro. O músico que sabia fazer, tocar, ler e escrever música. E estava na hora e no lugar certo. No meio dos anos 1960, a indústria fonográfica brasileira explodiu.

Em toda casa havia uma vitrola. Milhares de discos tinham que suprir esta demanda. Poucos músicos sabiam arranjar e conduzir as bandas.

Dos discos clássicos de Roberto Carlos à orquestra Românticos de Cuba, todos vinham com assinatura e direção musical de Waltel Branco.

Na década de 1960, nos trabalhos em que Waltel fazia, o piano estava sempre nas longas mãos de do paulista Dom Salvador.

Dez anos mais jovem, Salvador foi quem melhor soube misturar a mùsica negra brasileira à que se tocava no mundo. Algo que Waltel também fazia e valorizava. No violão de Waltel cabe o universo.

No piano de Dom Salvador, a mão direita é percussiva. Africana. A esquerda, ilimitada. A Gazeta do Povo entrevistou os dois músicos. Cada um falou sobre o outro e mandou um recado ao amigo. Eles não se veem desde 1973.

Veja o vídeo com entrevistas com Waltel Branco e Dom Salvador:

Waltel por Dom. Dom por Waltel

Maestro Waltel Branco e pianista Dom Salvador relembram das parcerias e falam sobre música.

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A carreira de ambos andou junta por dez anos. Dom Salvador era o pianista preferido de Waltel, que era quem escolhia o elenco das principais gravações brasileiras dos anos 1960. No início dos 1970, cada um fez uma opção diferente.

Waltel foi convidado pelo próprio Roberto Marinho para ser o diretor musical da Rede Globo. O grupo apostava nas telenovelas como linguagem a ser entendida por todo o eclético pais. Precisavam de um maestro que desse conta do recado. Esse cara era Waltel.

Dom Salvador tinha criado banda Abolição, pioneira da “black music” brasileira. E decidiu ir para os Estados Unidos, apostar no fusão do jazz com a musica afro que fazia melhor que ninguém.

Na época, parecia que Waltel optara pelo certo e Dom Salvador pelo duvidoso. O emprego como diretor da Rede Globo era um porto seguro. Ir tocar em bares e discos de jazz da América, uma aventura.

Escute o álbum “Mancini Também é Samba”, com direção de Waltel e Dom Salvador ao piano:

Cinco décadas depois a vida cobra contas diferentes. Waltel, ainda que tenha reconhecimento, vive sem luxo. Mora num hotel modesto no centro de Curitiba e conta com a ajuda de amigos e da sobrinha Cecília para sobreviver com a classe habitual.

Documentários

Aos 87 anos, continua compondo e arranjando musica. Nesta terça, (12) vai lançar, o maior projeto dedicado a sua obra autoral, o box de quatro discos e documentário “101 Músicas de Waltel Branco”, na Cinemateca de Curitiba com direção de Virgílio Milléo e Adriano Esturilho.

Em Nova Iorque, Dom Salvador é uma estrela do jazz. Toca cinco vezes por semana no The River Café, um dos mais concorridos restaurantes do Brooklyn. Há dois anos, fez um show com sua banda Rio 65 no Carnegie Hall aceito pela crítica como o grande acontecimento do jazz no ano.

Sua obra e vida estão sendo documentados no filme, “Endless Soul”, dos cineastas curitibanos Artur Ratton e Lilka Hara. Sem Dom Salvador e sem Waltel Branco, a música brasileira não seria isso o que o mundo sabe que ela é.

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