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Cia. Urbana de Dança apresentou Suíte Funk na Bienal de Dança | Christian Ganet/Divulgação
Cia. Urbana de Dança apresentou Suíte Funk na Bienal de Dança| Foto: Christian Ganet/Divulgação

Outras direções

Em busca de novos efeitos visuais a partir do trabalho corporal, o coreógrafo Fabrice Lambert, da companhia L’Experience Harmaat, participou da 13ª Bienal de Dança de Lyon (França) com dois solos: A Comme Abstraction e Gravité.

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Lyon, França - A Bienal de Dança de Lyon (França), um dos mais importantes eventos mundiais do circuito profissional, completou 25 anos neste mês de setembro, chegando à sua 13ª edição, encerrada ontem. Sob o tema Retour Anavant – uma espécie de metáfora que sugere um Retorno Adiante –, a bienal explora a memória, o repertório, a transmissão e a criatividade.

Para as apresentações, que movimentam toda a cidade e seus arredores, foram selecionadas pelo diretor artístico Guy Darmet 42 companhias de 19 países, entre os quais Brasil, China, Canadá e vários representantes europeus, que apresentam, no total, 54 coreografias – trabalhos que marcaram a história da dança, premières e remontagens, misturando linguagens do passado e do futuro.

Diversos teatros e espaços não convencionais, inclusive na região metropolitana de Lyon, são utilizados durante a bienal, sempre com casa cheia. O que se nota claramente é que aqui o artista se comunica com o público em geral e não somente com os seus pares, como ainda se percebe no Brasil.

Darmet revela a chave para o sucesso de público das apresentações. "São 25 anos de trabalho de formação de público e desenvolvendo a bienal. Para isso, são necessários recursos, apoio político e uma boa equipe", diz. Segundo o diretor, é uma questão de dar continuidade ao que já estava sendo feito e deixar algo para que os próximos levem adiante. "Isso pode ser feito em qualquer lugar", completa.

Uma idéia desse envolvimento da população pode ser dada em números: 2008 teve a segunda maior freqüência à bienal, com 84 mil espectadores.

Vitrine para brasileiros

Duas companhias brasileiras foram expostas nesta vitrine artística, o que pode representar uma mudança expressiva de rumos na vida de muitos desses profissionais. Uma delas é a Companhia Urbana de Dança, dirigida por Sonia Destri, no Rio de Janeiro, que mescla movimentos da dança de rua, dos guetos, à capoeira. De acordo com Darmet, o grupo fez o maior sucesso em Lyon.

Uma das coreografias, Suíte Funk,foi assinada por Sonia, e a outra, Agwa, pelo francês Mourad Merzouki. A parceria com Merzouki foi uma proposta de Darmet de que o coreógrafo visitasse o Rio algumas vezes para trabalhar com bailarinos, entre 18 e 24 anos, moradores de favelas da cidade. O que mais havia impressionado o diretor era a vitalidade e a vontade de dançar desses meninos.

Merzouki confessa que o trabalho não foi fácil e que, por alguns momentos, pensou em abandonar o projeto. Mas, quando se lembrava da força de vontade dos bailarinos e de todas as suas dificuldades, reunia forças para continuar.

Ele conta que também veio da periferia, por isso se identifica com os meninos, no entanto, a realidade deles no Brasil era muito diferente: não havia infra-estrutura e muitos faltavam, inviabilizando os ensaios.

Vanguarda

Espaço reservado para a pluralidade de expressões corporais e musicais, a Bienal de Dança de Lyon é também o local onde os artistas de vanguarda mostram seu trabalho ao grande público.

Os franceses assimilaram o nível evolutivo da coreógrafa Magui Marin, que, provavelmente, não seria bem compreendido no Brasil. Se o espectador vai ao teatro, esperando que a obra dela seja coreografada, com movimentos corporais, sairá totalmente frustrado. Deve estar aberto à sua proposta, que foi lapidada ao longo dos anos, depois de ter tido um contato essencial com a dramaturgia de Samuel Beckett e com profissionais da área artística e musical.

O trabalho de Magui Marin, que já foi corporal como a dança convencional, se tornou uma espécie de teatro, com detalhes que remetem a referências de obras de arte, por exemplo. Sua inquietação é mais filosófica a cada criação. A peça Turba, encenada pela companhia que leva seu nome, tem excertos do poema "A Natureza das Coisas", originalmente escrito em latim por Lucrécio, sendo declamado em diversas línguas: grego, inglês, francês e inclusive português.

O poema permite a decodificação de poses, gestos e detalhes. O cenário e os figurinos são quase exagerados, com muitos elementos, flores, árvores, fardas e perucas. Há também músicos ao vivo, misturando guitarra, metais e outros instrumentos. Significando o tumulto da multidão, Turba foi ovacionada pelo público em Lyon.

A jornalista viajou a convite da Bienal de Dança de Lyon.

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