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Burt (John Krasinski) e Verona (Maya Rudolph): esperam o primeiro filho e procuram um lugar ideal para fincar raízes | Divulgação
Burt (John Krasinski) e Verona (Maya Rudolph): esperam o primeiro filho e procuram um lugar ideal para fincar raízes| Foto: Divulgação

Sam Mendes é um diretor que começou sua carreira no cinema com o pé direito para depois tropeçar na própria sorte. Respeitado na cena teatral londrina, estreou como cineasta de maneira espetacular: ganhou os Oscars de melhor filme e direção com Beleza Americana. O filme, um ácido e algo caricato retrato da classe média suburbana norte-americana, fez furor na época. Hoje é considerado uma obra superestimada.

Depois de um início tão bombástico, é natural que todos esperassem de Mendes um outro "grande filme", algo que Beleza Americana, apesar de suas qualidades, nunca foi de verdade. O repeteco, entretanto, nunca veio. Estrada para Perdição é uma bela adaptação para o cinema de uma graphic novel noir, mas peca pela frieza e pelo distanciamento. Foi Apenas um Sonho, transposição do célebre romance Revolutionary Road, de Richard Yates, traz um notável trabalho de Kate Winslet no papel de uma dona de casa desesperada dos anos 50, sufocada pela vida suburbana, assim como os protagonistas de Beleza Americana.

Mendes, no entanto, pesa a mão ao não conseguir humanizar seus personagens centrais, um casal em crise (Kate e Leonardo DiCaprio) um com o outro e com a vida que levam.

Talvez por não ser norte-americano, Mendes tenta, em seus filmes, dissecar a alma americana com um olhar excessivamente crítico, como se os personagens, sufocados pela ordem social, não tivessem chance de salvação. Essa postura revela uma visão exótica e, portanto, superficial, apesar de sempre embalada com sofisticação e povoada por excelentes atores. Isso até Por uma Vida Melhor, uma pequena e despretensiosa comédia romântica que cativa pela ternura com que retrata um jovem casal de americanos numa encruzilhada existencial.

Talvez por conta do roteiro do casal de escritores Dave Eggers e Vendela Vida, ou em decorrência de um processo interno de Mendes, Por uma Vida Melhor, menor do que os filmes anteriores do diretor luso-britânico, vai mais longe. Burt (John Krasinski) e Verona (Maya Rudolph) estão na casa dos 30 anos, esperam o primeiro filho e não parecem ter grandes planos de vida. Pelo menos até os pais de Burt (Jeff Daniels e Catherine O’Hara) anunciarem que estão de mudança para a Bélgica e não estarão presentes para ajudá-los com o bebê.

Chocados, Burt e Verona resolvem cair na estrada em busca de um lugar que possam chamar de seu. Procuram estabilidade, conforto, segurança, mas não sabem onde vão encontrar. Vão atrás de uma amiga de infância de Burt (Maggie Gyllenhaal), professora universitária toda alternativa e avessa à sociedade de consumo. Decepção: ela é mais pose. Também tentam a sorte com uma ex-colega de Verona (Allison Jenney), que os assusta com sua família disfuncional. Atravessam o país até a Flórida, onde vive o irmão de Burt, e chegam a atravessar a fronteira do Canadá, lar de um casal de amigos e de seus filhos adotivos. Sempre em busca de respostas, de uma verdade que os convença a fincar raízes e amadurecer.

Engraçado e tocante na mesma medida, Por uma Vida Melhor parece muito simples, mas, por trás de sua leveza, esconde mais complexidade que os trabalhos anteriores de Mendes, que defendem teses sobre o american way of life cheias de pré-julgamentos. Não é o caso aqui. É uma obra que aposta em segundas e terceiras chances.

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