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Andar pela obra de reconstrução da Capela do Santa Maria tem um ar de aventura. Por um lado, é preciso desviar de pedaços de construção, andar por um piso destruído, todo coberto de barro, e descobrir caminhos possíveis. Por outro, é preciso usar os olhos e a imaginação para tentar reconstruir mentalmente o que pode ter sido o prédio, que entra em seu terceiro século de existência – a prefeitura não informa a data exata da construção, mas sabe-se que foi erguido em algum ponto do século 19.

Além dos vitrais – alguns deles quebrados –, dos enfeites florais do teto e das imagens pintadas na parede, é preciso imaginar o mobiliário, a decoração e os detalhes da construção que transformaram o edifício em parte valiosa do patrimônio histórico da cidade. Atualmente, apesar de seu estado precário de conservação, a capela é considerada Unidade de Interesse Especial de Preservação para o município.

Para que o ambiente possa voltar a ser o que era, a primeira tarefa será colocar tudo de pé novamente. "São R$ 2,6 milhões para a infra-estrutura", diz o presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Paulino Viapiana. A fase de reconstrução, que inclui o restauro das obras de arte, termina em fevereiro, de acordo com as previsões atuais. Tudo feito com dinheiro de troca de potencial construtivo. Ou seja: montantes pagos por construtoras que queriam ultrapassar limites legais em suas obras, em algum ponto da cidade, e que são obrigadas a pagar uma espécie de tarifa para isso.

A segunda fase será a transformação do lugar em um teatro. Isso inclui desde a construção do palco e a instalação de 600 poltronas, até sistemas de iluminação e outros detalhes técnicos. A esperança da prefeitura é de terminar tudo até 2006. Mas, como os recursos para a fase dois ainda não estão assegurados, pode demorar mais.

Camerata

Quem tem mais a ganhar com o novo teatro é a Camerata Antiqua de Curitiba. Fundada em 1974, a orquestra firmou-se como um dos principais conjuntos de câmara do país. Apesar dos vários avanços, a formação nunca teve direito a sede própria. Atualmente, os músicos – 16 instrumentistas e 16 cantores – ensaiam no Solar do Barão e se apresentam em igrejas. O teatro oficial da orquestra é o o Londrina, no Memorial de Curitiba, com capacidade para apenas 120 pessoas. Para tocar para mais gente, a Camerata já tentou usar outros espaços do Memorial, mas a acústica não ajudou.

"Temos tirado água de pedra no Solar do Barão, usando salas improvisadas", diz Francisco de Freitas Júnior, um dos coordenadores da orquestra. Segundo ele, os músicos estão empolgadíssimos com a possibilidade do endereço fixo, ainda mais em um lugar nobre da cidade. Agora, a principal preocupação é com a acústica. "Como é no Centro, o espaço vai precisar de um isolamento acústico bom", diz Freitas.

Além da Camerata, outros grupos de música também poderão usar a sala de concertos. A idéia, de acordo com Paulino Viana, da Fundação Cultural, é que o espaço seja uma espécie de pólo de música erudita na cidade. Os músicos esperam que seja assim mesmo, já que a outra tentativa de fazer um teatro para essa finalidade em Curitiba, o Canal da Música, acabou sendo deturpada com a transformação do auditório em um lugar para todo tipo de uso – exceto a apresentação de música clássica.

Mas tão importante quanto a abertura de um espaço cultural é a recuperação de parte do patrimônio da cidade, que estava se deteriorando rapidamente. A uma quadra do Teatro Guaíra, em uma das ruas mais movimentadas da cidade, um prédio histórico não deveria nunca ter sido deixado às moscas, transformado em ruínas.

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