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A onda de relançamentos de pérolas perdidas da MPB continua. Agora é a vez da gravadora Trama, em parceira com a Som Livre, dar uma nova chance a 18 títulos da extinta RGE. O grosso da fornada é composto por música "de raiz", seja samba ou sertaneja. São quatro CDs de Theodoro e Sampaio, um de Chico Rey e Paraná, dois de Jorge Aragão (de sua fase pré-estouro), outros quatro do grupo Fundo de Quintal e mais um de Pena Branca e Xavantinho. Estes últimos, festejados pelos fãs mais puristas do som regional, marcam presença em Uma Dupla Brasileira, segundo disco de sua carreira, que traz faixas como "Memória de Carreiro", "Procissão de Gado", "Bate na Viola" e "Moda da Pinga".

Mas o fino do pacote remasterizado está mesmo em quatro CDs de orientação "emepebista". A começar por Mico de Circo, certamente um dos melhores – e mais subestimados – trabalhos de Luiz Melodia. Trata-se do terceiro álbum do cantor e compositor carioca, lançado em 1981, após o bem-sucedido Maravilhas Contemporâneas (de 1976, que continha a clássica "Juventude "Transviada"). Como é de praxe na obra de Melodia, uma bem azeitada fusão de jazz, samba e blues permeia todo o material. "Presente Cotidiano", posteriormente gravada por Gal Costa, foi o hit do disco, com o refrão "Quem vai querer comprar banana".

Mico de Circo ainda tem "Onde o Sol Bate e se Firma" (também registrada por Olívia Byington), "O Morro não Engana", "Bata Com a Cabeça" e dois sambas matadores: "A Voz do Morro" (de Zé Ketti) e "Fadas" (do próprio Melodia). Na ficha técnica, um timaço de arranjadores – João Donato, Perinho Santana, Oberdan, Severino Araujo, Armandinho e Marcio Montarroyos. Os créditos, aliás, são o fraco da coleção da Trama. Há pouca ou nenhuma informação adicional à lista de músicos, sem contar que as capas originais só aparecem, reduzidas, nas contracapas dos CDs.

Seja como for, outro bom título da série é o CD homônimo do Octeto de Cesar Camargo Mariano. Lançado em 1966, é o primeiro trabalho em que o pianista atua como band leader. Além do pai de Maria Rita, o grupo ainda contava com bambas como Sabá (baixo), Heraldo do Monte (violão) e Airto Moreira (percussão), entre outros. O som, como não poderia deixar de ser, é samba-jazz de primeira qualidade – e do tipo que americanos, europeus e japoneses ouvem com extrema reverência. São cinco temas escritos por Cesar Camargo e seis releituras, incluindo "Desafinado" (Newton Mendonça/Tom Jobim), "Champagne and Quail" (Henry Mancini), "Vem" (Marcos Valle/Lula Freire) e "Pra Machu-car Meu Coração" (Ary Barroso).

Também homônimo, o primeiro LP da dupla Robson Jorge e Lincoln Olivetti é daqueles que mereciam há tempos uma versão em CD. Olivetti, tecladista e arranjador de mão cheia, participou de nove entre dez discos de sucesso nos anos 80. Imprimiu uma marca tão forte à produção da época que passou a ser chamado, injustamente, de pasteurizador. Ao lado de Jorge, guitarrista ao mesmo tempo econômico e genial, lançou em 1982 esta verdadeira preciosidade da soul music nacional (devidamente mesclada ao suingue tupiniquim). Basicamente instrumental, com um ou outro refrão ocasional, o álbum oferece munição para qualquer baile black que se preze. "Jorge Corisco" e "Aleluia" estão simplesmente entre as principais músicas do gênero no Brasil.

Por fim, há Azimuth (1976), do trio de mesmo nome. "Linha do Horizonte", tema da novela global Cuca Legal, é o grande hit do disco, que ainda traz um punhado de temas instrumentais fantásticos (e altamente psicodélicos). Faixas como "Melô da Cuíca", "Caça a Raposa" e "Manhã" conquistaram o público internacional de jazz e garantiram a sobrevivência do grupo longe do instável mercado brasileiro. Na ativa até hoje, e com a grafia mudada para Azymuth, José Roberto Bertrami (teclados, voz), Alex Malheiros (baixo) e Ivan Conti (bateria) acabam de lançar uma coletânea de seus trabalhos mais recentes. Só lá fora, é claro.

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