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As histórias contadas por Sherazade a um sultão tirano povoam, há séculos, o imaginário de crianças e adultos, servindo de inspiração para escritores como Machado de Assis e Jorge Luís Borges. A narrativa árabe, de autoria anônima, conta a história de um rei que descobre a traição de sua primeira esposa. Desnorteado, ele sai pelo mundo para descobrir se há alguém mais infeliz do que ele e conclui que ninguém pode controlar as mulheres. Retorna ao reino e decide casar-se a cada noite com uma mulher, mandando matá-la na manhã seguinte. Quando chega sua vez, Sherazade, filha do vizir mais importante do reino, inventa um plano perfeito para sobreviver: ela começa a contar uma história por noite para o rei. Encantado com as aventuras, ele desiste de matá-la ao fim de 1001 noites.

Como Sherazade pôde ser tão esperta? O espetáculo infantil Sherazade e O Fantástico Mundo das Mil e uma Noites, que estréia hoje, às 16 horas, no Espaço Teatro Regina Vogue, procura explicar este mistério às crianças, ao fazer a personagem voltar à infância.

Os atores e o diretor Maurício Vogue trabalharam coletivamente para retratar a menina Sherazade, entre os 4 e os 16 anos – idade aproximada de seu casamento com o sultão.

A montagem comemora os 20 anos de atividades da produtora de peças infantis Regina Vogue e inaugura o Centro de Pesquisa de Tea-tro para Crianças, criada com o objetivo de pesquisar novas linguagens e propostas para o teatro infantil. "A construção da peça foi feita a partir da ‘comcriação’, um termo que existe no dicionário, mas que é pouco utilizado pelo teatro", conta Maurício.

Na peça, a história de Sherazade interliga-se constantemente com a realidade atual. Maurício explica que o lúdico, a poesia e a fantasia são elementos essenciais do teatro infantil, mas as crianças também querem ver o mundo em que vivem refletido nos palcos. "Elas estão muito além de nós. É a geração da tecnologia, da TV a cabo, em que assistem programas de diversos países", diz. Em vários momentos da peça, "atores pensadores" interrompem a atuação dos personagens para traçar um paralelo entre a vida de Sherazade e o mundo atual. Um deles joga uma granada no palco, que é pega por Eugênio, o melhor amigo da filha do vizir. Sem saber do que se trata, ele a confunde com um ovo. O episódio vai causar uma discussão sobre as guerras entre os personagens. A peça também procura retratar o mundo arábe nas danças, coreografias, roupas ou cenário, bem como os conflitos atuais entre Ocidente e Oriente.

A montagem mostra como Sherazade preenche-se de referências na infância que, no futuro, vão ajudá-la a engendrar sua própria libertação e a de outras mulheres ameaçadas pelo sultão. Nas brincadeiras com outras crianças arábes e nas histórias que ouve da avó, ela aprende a valorizar três qualidades capazes de modificar a realidade de qualquer tempo: coragem, amor e criatividade.

Serviço: Sherazade e o Fantástico Mundo das Mil e Uma Noites. Espaço Teatro Regina Vogue (Av. Sete de Setembro, 2.775, piso 2), (41) 2101-8292. Direção de Mauricio Vogue. Com Giovana de Liz, Angelo Cruz e Samir El Halab. Sábado e domingo, às 16 horas. Ingressos a R$ 15.

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