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Se os países em desenvolvimento enfrentaram muitas dificuldades econômicas durante as últimas décadas do século 20, os países ricos vinham de um longo período de estabilidade. Por isso o impacto da crise atual na Europa e nos Estados Unidos. O professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e coordenador do Centro de Formação de Tecnológos, Carlos Magno Andrioli Bittencourt fala sobre o papel da tecnologia nas manifestações que correm o mundo. "É uma nova forma de refletir, mobilizar e agir", diz Bittencourt.

Há quem acredite que mobilização que ocorre em Nova York tem força para marcar época. Uma dessas pessoas é a ativista canadense Naomi Klein. Qual a sua opinião a respeito do movimento Ocupe Wall Street?

O que tem contribuído para essas mobilizações são principalmente aspectos ligados ao momento e à tecnologia. O momento porque as crises que tivemos nas décadas de 1980 e 1990 atingiram países periféricos (Argentina, Rússia, alguns países asiáticos) e não os centrais (como EUA e Europa). A tecnologia porque ela está sendo a grande instigadora e aliada da mobilização de massas com baixissimo custo: vide as redes sociais.

A Grande Depressão ocorreu há bastante tempo, em 1929, e de lá para cá os países como EUA e Europa jamais foram atingidos com tal impacto em suas economias. A situação atual é novidade para as atuais gerações e representa uma mudança radical no mundo contemporâneo. Agora é preciso ver se haverá fôlego suficiente para que esta consciência se mantenha.

O que está por trás desse fôlego necessário para que os movimentos se mantenham e façam alguma diferença?

O continuísmo de falhas do sistema que continuam alimentando essa revolta por medidas que conduzem as pessoas à perda de qualidade de vida – desemprego, redimensionamento da renda, baixa qualidade na educação –, ações que aumentem a carestia e reduzem os meios para a busca da sobrevivência, insatisfação com ações do governo etc. Não se pode permitir que seja uma fogo de palha e depois se apague.

Você identifica características no Ocupe Wall Street que o aproximam de outras mobilizações de peso, como, por exemplo, a Primavera Árabe o Maio de 68?

Sim, a Primavera Árabe é a identidade clara de que as redes sociais são aliadas das mobilizações atuais. É uma nova forma de refletir, mobilizar e agir.

Em relação a Maio de 1968, o que aconteceu então foi uma sucessão de acontecimentos que deixaram cicatrizes na sociedade e diante disso houve resistências. Foi um marco porque muitas conquistas e liberdade alcançaram as minorias.

De ponto de vista sociológico, como você explicaria um movimento social como esse Ocupe Wall Street?

É um movimento consistente que tem sua gênese na locomotiva da economia mundial (Estados Unidos). Isso é surpreendente e sui generis.

O ingrediente essencial é uma comoção social – ou seja, as massas têm que sentir "na carne" os rumos que estão sendo tomados pelos governos principalmente quando estes resolvem "salvar" o mercado financeiro e deixar à mercê a sociedade, que fica relegada a um segundo plano.

E quanto à América Latina? O senhor acha que as mobilizações podem chegar ao países latino-americanos? Os protestos no Chile seriam um reflexo desse momento?

O Chile tem tido manifestações mais fortes devido ao padrão de vida que existe lá – o melhor da América Latina. Então já alcançaram um nível de conscientização que desperta revoltas em resposta à medidas que criem insatisfação.

Boa parte dos países da AL passou por ditadura e leva tempo para criar uma cultura de conscientização do papel do cidadão, para conhecer seus direitos e obrigações.

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