Depois de ganhar o Prêmio Kodak de melhor curta-metragem na Semana Internacional da Crítica de Cannes com o curta-metragem "Um ramo" na sexta-feira (25), Marco Dutra, um dos diretores, contou que não conseguiu escutar a justificativa lida no momento da premiação. Ele e Juliana Rojas, a outra diretora, foram surpreendidos pelos aplausos.
- Todos começaram a aplaudir depois que anunciaram nosso filme como vencedor e não conseguimos ouvir mais nada - disse Dutra, ainda emocionado e curioso.
O curta "Um ramo" fez sua estréia em Cannes e foi exibido ao público em oito sessões, seguidas de debates com os realizadores. O enredo conta a história de Clarisse, uma professora com problemas de relacionamento com o filho que descobre uma anomalia em seu braço. Do seu pulso começa a brotar uma pequenina folha verde.
- O filme tem 15 minutos de descobertas sobre a surpresa do acontecimento e a maneira com que Clarisse lida com isso - explica o diretor.
Das exibições e debates, Marco conta que a sala estava sempre cheia. A maioria das perguntas era sobre o que simbolizava a transformação de Clarisse em árvore.
- Foi muito interessante. Curiosamente, os franceses acharam o filme muito brasileiro. Uma senhora disse que cortam muitas árvores na Amazônia e é por isso que as pessoas estão se transformando em árvores em São Paulo. Achei essa leitura interessante - contou Marco, que disse estar ansioso para lançar o filme no Brasil e descobrir qual será a reação da platéia.
Marco explicou que o prêmio, de 5 mil euros, é dado em forma de apoio para a realização do próximo filme. Ele e Juliana Rojas planejam investir os recursos na realização de um outro curta a ser filmado ainda este ano, "O esquecimento". Mais uma vez o enredo terá como protagonista uma personagem feminina, que atropela um cachorro na estrada. A mulher o recolhe e coloca o animal morto no porta malas, mas não consegue contar ao marido e ao filho o que aconteceu.
A experiência é o ponto de partida para falar da difícil relação familiar entre os personagens. O filme deve ter de 15 a 20 minutos de duração.
Os jovens diretores também estão engajados na realização de seu primeiro longa-metragem para o próximo ano, que vai se chamar "Trabalhar cansa". A trama gira em torno de Helena, que decide abrir um pequeno mercado. O marido da personagem é demitido e, depois disso, ele se dedica a cuidar da filha do casal, que contrata uma empregada para ajudar nas tarefas domésticas. O foco da dupla, nesta obra, será a mudança das relações de trabalho.
Os dois diretores fizeram Faculdade de Cinema na Escola de Comunição e Artes da Universidade de São Paulo e desde o primeiro ano de curso (1999) trabalham juntos. Buscam não se aproximar de gêneros de maneira clichê.
- Tentamos injetar suspense, ficção científica ou realismo fantástico de forma que nossos filmes não sejam facilmente categorizáveis. Queremos causar inquietação, estranhamento, para que o espectador não consiga comparar nossos filmes a nada. Claro que temos referências, muitas inconscientes. Mas valorizamos essa tentativa de não nos enquadrar em um gênero específico - diz Dutra.
Deixar que os personagens e a narrativa se expressem é outra preocupação da dupla na condução do filme.
- Tentamos anular nosso ego como diretores, permitindo que as pessoas se envolvam com os personagens. A idéia é que a direção dê suporte para que a narrativa exista. Optamos então por um ritmo lento e planos gerais, que dêem espaço e liberdade para que o espectador se dirija dentro do filme, sem forçar nenhum leitura - conclui.