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Produzir um programa diário de entrevistas não é uma tarefa fácil. Para cada convidado interessante, sobram dezenas de figuras inexpressivas, motivadas apenas pelo desejo de divulgar seus projetos. Portanto, é natural que uma atração do gênero passe por altos e baixos ao longo de sua trajetória. É o caso do talk show de Jô Soares, no ar desde 1998, quando ainda era exibido pelo SBT. Após um período um tanto morno no retorno à Rede Globo, a atração vem dando sinais de recuperação nas últimas semanas.

Jô foi recontratado pela emissora carioca em 2000, disposto a incrementar o programa com mais recursos (leia-se verba) e a possibilidade de receber o grande elenco de profissionais da emissora em seu sofá. Mas, apesar de conseguir índices satisfatórios de audiência, a atração não repercutiu como deveria. E o apresentador, antes considerado uma unanimidade nacional, passou a ser alvo de críticas vindas de todos os lados – com direito à perseguição por parte da turma do Pânico, que o escolheu para calçar as temidas "sandálias da humildade", concedidas a celebridades com ego acima da média.

A reação começou há cerca de um mês, quando a crise política explodiu de uma vez por todas. Atentos ao momento, Jô e sua equipe resolveram investir na discussão sobre os rumos do país, apresentando entrevistas com os principais atores políticos brasileiros. A aposta deu certo, e desde então o talk show tem recebido um verdadeiro desfile de figurões do governo e da oposição – de Heloísa Helena (PSOL) a Heráclito Fortes (PFL), passando por Pedro Simon (PMDB), Ideli Salvatti (PT) e o próprio Roberto Jefferson (PTB). O programa ainda organiza, às quartas-feiras, uma mesa-redonda composta por algumas das mais importantes jornalistas da área (Teresa Cruvinel, Ana Maria Tahan, Cristiana Lobo).

A produção comete alguns deslizes, como o constrangedor número musical de Jefferson, mas há de se destacar a sobriedade de Jô durante as entrevistas. Criticado por querer aparecer além da conta, o apresentador, para espanto geral, tem deixado os políticos falarem à vontade (e durante dois blocos inteiros). Dessa forma, a atração consegue ir mais fundo nas questões discutidas do que, por exemplo, o badalado Roda Viva (TV Cultura), sempre prejudicado pelo número excessivo de debatedores.

Outro ponto positivo para Jô: ele assumiu a postura de cutucar, com naturalidade, os entrevistados, como na ocasião da conversa com Tarso Genro – ministro da Educação, novo presidente do PT e pai da deputada Luciana Genro, expulsa do partido por defender as raízes esquerdistas da legenda. "Você não acha, como pai e militante, que sua filha foi expulsa do PT por muito menos do que o Delúbio fez?", perguntou, sem a menor cerimônia. Genro, é claro, engasgou-se.

Na primeira grande CPI da era da internet, a difusão dos fatos transcorre por inúmeras vias – além das tradicionais, há agora os celulares, canais de notícias em tempo real, tevês do Congresso, etc. Em meio a tanta informação, é de suma importância a existência de um espaço como a nova fase do Programa do Jô, em que a agilidade é substituída pela reflexão. Agora só falta o presidente Lula voltar a sentar no sofá do apresentador.

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