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Kika Kalache, Guilherme Piva e Antonio Saraiva em De Verdade: amor não definitivo. | Antonio Costa/Gazeta do Povo
Kika Kalache, Guilherme Piva e Antonio Saraiva em De Verdade: amor não definitivo.| Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo

Adaptada de um romance húngaro que narra a história de um triângulo amoroso ao longo de quatro décadas, a peça "De Verdade", que fez sua estreia nacional ontem, para um Guairinha metade ocupado, pode atrair espectadores interessados em assistir à encenação de uma grande história de amor. Um amor desses "de verdade".

E é exatamente isso o que fazem seus protagonistas, Ilonka (Kika Kalache) e Peter (Guilherme Piva): contam ao público a trajetória do amor que viveram durante os anos em que foram marido e mulher. Uma relação que, de tão verdadeira, fracassou.

Descrito como o "egoísmo mais selvagem", o amor mostrado em "De Verdade" desmorona quaisquer ilusões românticas. Como quando os móveis da sala parecem não estar na posição definitiva, é um sentimento visto como causador de inquietude e angústia.

A garota de classe média Ilonka se esforça tanto para ser perfeita aos olhos do marido burguês, que o perde para algo irreal. Peter sonha em conhecer a paixão em sua forma mais avassaladora e se entrega aos braços de um destino que acredita ter encontrado antes mesmo de se casar com Ilonka. Mas "não existe um só lugar para uma só pessoa", assim como não existe uma posição definitiva para a mesa na sala - os espaços da vida mudam.

Ao mesmo tempo sensível e realista, "De Verdade" é um espetáculo tocante. A direção de Marcio Abreu, da premiada Companhia Brasileira de Teatro, envolve a plateia com recursos simples e eficazes: a música de Antonio Saraiva que funciona como um terceiro personagem; os cheiros de cigarro e perfume, presentes ao longo da narrativa; a iluminação delicada e certeira de Nadja Naira; e a cenografia objetiva de Fernando Marés.

Os atores Kika e Guilherme talvez arrancaram do público mais risadas do que gostariam. Possivelmente devido aos papéis cômicos que tornaram seus rostos conhecidos na televisão -- ela, mais recentemente, em "Ti Ti Ti", ele em "Insensato Coração" --, que acabaram reforçando a pré-disposição da plateia típica do festival em achar que tudo ao que assistem é comédia. Fato é que o desempenho de ambos foi correto: dramático e cômico na medida.

Ao fim da peça, de verdade mesmo, só resta a certeza de que nada é definitivo: nem sentimento, nem casamento. O amor é um sonho que se desmancha nos lugares mais comuns. Como acordar pela manhã após um porre do vinho mais doce e se ver refletido em um gigantesco espelho. Para os que não temem esse choque de realidade, De Verdade conta com apenas mais uma sessão.

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