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Milton Hatoum levou a maior honraria do Prêmio Portugal Telecom anteontem à noite, em São Paulo (SP), pelo seu terceiro romance, Cinzas do Norte. O escritor amazonense ficou emocionado por levar os R$ 100 mil pagos ao primeiro lugar. "Posso viver de literatura por um tempo. Tenho que ajudar minha mãe e minha família", disse, cercado de jornalistas depois da cerimônia de entrega na Casa Fasano.

O segundo lugar (R$ 35 mil) foi para A História dos Ossos, de Alberto Martins (Editora 34), enquanto o terceiro (R$ 15 mil) ficou com Ricardo Lísias, pelo romance Duas Praças (Globo). Hatoum recebeu o troféu das mãos do embaixador português Francisco Seixas da Costa e admite que teve "muita sorte". "Vários escritores importantes jamais receberam prêmios, como (Jorge Luis) Borges e (Guimarães) Rosa", lembrou o autor. A escolha de Cinzas do Norte contrariou a expectativa de parte do público que descartava a possibilidade do Portugal Telecom escolher o mesmo romance laureado pelo Prêmio Jabuti em setembro passado – Hatoum levou o livro do ano. Escrito em cinco anos e resultado de um projeto maturado por mais de duas décadas, Cinzas do Norte se confirma como o romance bra-sileiro mais importante de 2005 (ambas as premiações consideram obras publicadas ao longo do ano anterior). Uma unanimidade.

A cerimônia da noite de terça-feira criou ainda uma dinastia: nos quatro anos do Portugal Telecom, a editora Companhia das Letras colocou livros no primeiro lugar. Antes de Hatoum, foi Amilcar Bettega Barbosa (Os Lados do Círculo), Paulo Henriques Britto (Macau) e Bernardo Carvalho (Nove Noites, empatado com Pico na Veia, de Dalton Trevisan).

Hatoum acredita na literatura como forma de conhecimento, diz que tem um pé no século 19 – ele se considera flaubertiano – e encara Cinzas do Norte como seu romance mais complexo. "Esse prêmio foi para um escritor provinciano que não estudou em escolas da elite", disse, em referência ao fato de sua formação ter sido no sistema público de ensino. Hoje, o escritor manauara finaliza uma novela sob encomenda para a Coleção Mitos, idealizada por editora escocesa e publicada no Brasil pela Companhia das Letras.

Wilson Bueno, finalista do prêmio pelo fabulário Cachorros do Céu não foi premiado. A expectativa da editora Planeta era de que a obra terminasse ao menos em terceiro lugar. Quem levou foi Ricardo Lísias por Duas Praças, livro elogiado justamente pelo pa-ranaense em artigo para o jornal O Estado de S.Paulo. Bem-humorado como sempre, Bueno brincou com a sua "não-escolha". "Sou o maior finalista dos prêmios literários que jamais existiu", disse, em tom de brincadeira, para depois pagar tributo ao romance de Hatoum. "Venceu o meu candidato."

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