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Soundman Pako: sobrevivente do underground curitibano | Marcelo Andrade / Gazeta do Povo
Soundman Pako: sobrevivente do underground curitibano| Foto: Marcelo Andrade / Gazeta do Povo

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22 Anos de Estrada – Soundman Pako

Club Vibe (R. Des. Motta, 2.311), (41) 3022-2323. Dia 18, às 22 horas. Primeiro lote: Masc.: R$ 55. Fem.: R$ 45.

Em um universo tão dinâmico e fadado à obsolescência precoce como o da música eletrônica, o DJ curitibano Carlos Alberto Padilha, de 47 anos, pode se considerar um sobrevivente. "Só meu pai e minha mãe me conhecem por esse nome, se me chamarem na rua de Carlos Alberto eu nem olho", brinca Soundman Pako, que celebra neste sábado, dia 18, a partir das 22 horas, no Club Vibe, 22 anos de carreira. O DJ, integrante do projeto Rolldabeetz junto com Fabo, grupo residente das casas Vibe, Dhangai e do festival Tribaltech, o maior do estado de música eletrônica, explica que não há nada demais na efeméride incomum, senão um descompromisso com datas comemorativas. "Nunca tive necessidade de comemorar nada, mas meus amigos insistiram e decidimos fazer pelo menos uma festa".

Faça você as contas: Pako começou a se encarregar do som que embalava as noites das boates no começo da década de 1990, época em que o vinil ainda era soberano no Brasil. Antes mesmo de chegar ao LP, porém, o DJ começou discotecando com fitas cassete. "Um amigo meu tinha um bar ali perto do Gato Preto, chamava Ponto G. Um dia ele resolveu fazer uma festa no porão e me chamou para colocar um som pro pessoal, porque eu já tocava em campeonatos de skate. Selecionei as músicas e gravei em fita. Ninguém se importou, a galera só queria se divertir", lembra. O que era para ser uma festa se tornou um evento semanal durante três meses, e de lá para cá, Pako tocou em praticamente todos os clubes de música eletrônica da cidade.

Foi aí que adotou o título com que viria a ser conhecido: Soundman. "Eu me recusava a ser chamado de DJ na época. Era um termo muito pejorativo, principalmente pra mim, que vinha do rock, por isso, adotei esse ‘Soundman’, que vi uma vez numa revista americana de música eletrônica." Pois bem, "vir do rock" aqui não é nenhum exagero estético. De fato, Pako nasceu musicalmente no underground das bandas de rock dos anos 1980. Liderou os vocais da banda Abaixo de Deus, que precocemente fundia metal e hip-hop – algo que viria a ficar conhecido nos anos 1990 como funk metal –, e que se apresentou em festivais junto com Ratos de Porão, Cólera, DeFalla e outros nomes expressivos da cena alternativa. A versatilidade de sua carreira musical talvez o torne o único a já ter dividido palcos com João Gordo e Atari Teenage Riot, quando abriu o show da banda alemã no Brasil, em 1998.

Foi com o Abaixo de Deus que viveu uma de suas histórias mais inusitadas, durante a premiação de um campeonato de skate. Completamente influenciados por Red Hot Chili Peppers, os membros decidiram imitar a famigerada performance de 1983 da banda de Anthony Kiedis, conhecida como "socks on cocks". "Tocamos duas músicas, voltamos para o camarim, tiramos a roupa e colocamos apenas uma meia nos ‘distintos’. Quando voltamos e os holofotes se acenderam, uma balbúrdia se formou. Apagaram as luzes imediatamente, desligaram o som e um segurança chegou falando para a gente sair do palco naquela hora se não quiséssemos morrer". De volta ao camarim, ouviram a plateia clamando pela banda. "Quando liberaram a gente, descobri que tinham quebrado tudo no evento e roubado todos os troféus. O organizador ameaçou a gente de morte, de processo, o diabo a quatro." Tudo por causa de uma meia.

Audiofilia crônica

Não há outra explicação para um artista que passa por tantas vertentes do rock, da música eletrônica e do hip-hop senão uma audiofilia crônica. Longe de ser um fardo necessário para evitar a estagnação, Pako até hoje garimpa com gosto novas sonoridades – algo muito mais fácil na era da banda larga na internet. O DJ conta que, nos anos 1990, quando não viajava à procura de novos materiais, comprava pelo telefone mesmo. "Tinha uma loja boa em São Paulo chamada Techno Records. O dono, Edney, conhecia bem o meu gosto. Ligava para ele e perguntava o que havia de novo, e ele pedia para eu retonar a ligação em dez minutos. Ele então reunia todos os EPs que julgava ser do meu agrado, e botava para eu ouvir pelo telefone. Escolhia os que eu queria, fazia o depósito e ele me mandava por Sedex." Tempos difíceis para um colecionador, mas o sistema dava certo. Pako julga ter hoje perto de 15 mil discos de vinil, muito bem catalogados e organizados em uma sala exclusiva de sua casa.

Forçado pela comemoração a fazer um balanço de sua carreira, o DJ diz que só uma trajetória estagnada não passa por altos e baixos, mas mantém o otimismo de quem ama sua profissão. "Nem penso em parar. Quero saber se vou ter o mesmo pique e intensidade quando estiver com 60 anos", indaga, com confiança, e completa com a voz da experiência: "não é fácil chegar onde eu cheguei. Tem muita gente boa vindo por aí, mas eu tô ainda na luta. Nem pense que eu vou deixar passarem por cima de mim."

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