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No “país da impunidade”, filme mostra que o Brasil tem a 3ª maior população carcerária do mundo | Divulgação
No “país da impunidade”, filme mostra que o Brasil tem a 3ª maior população carcerária do mundo| Foto: Divulgação

Cinema

Veja informações deste e de outros filmes no Guia da Gazeta do Povo.

Que algo anda mal nos sistemas judiciário e penal do Brasil é coisa que já se sabe há muito tempo. Mas talvez essa realidade nunca tenha sido esmiuçada de forma tão contundente – e original – quanto em Sem Pena, documentário de Eugênio Puppo em cartaz nos cinemas. Trabalhando em parceria com uma entidade, o Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), Puppo recolheu rico e farto material cinematográfico sob a forma de depoimentos de detentos, ex-presidiários, advogados, magistrados, funcionários do sistema penal, etc, tudo num total de 274 horas de matéria cinematográfica bruta. Teve de refiná-la e depurá-la para caber num longa-metragem de duração palatável.

O tema, à primeira vista indigesto, mostrou-se de interesse a muitas pessoas. Tanto que, participando do recém-encerrado Festival de Brasília, Sem Pena foi agraciado com o prêmio do Júri Popular, dado ao filme que melhor dialoga com o público. De fato, quem estava na sessão pôde testemunhar o quanto o filme tocou as pessoas e foi aplaudido no final. Prova de que o cinema não precisa necessariamente se limitar à fatia (majoritária) do escapismo. Há gente ainda interessada em conhecer a realidade do país. Aliás, essa aposta em um "cinema necessário" é a que atualmente mobiliza o diretor do circuito Itaú, Adhemar Oliveira

Sem Pena mostra situações kafkianas. O filme abre com o depoimento de uma pessoa dizendo que foi presa sob a acusação de molestar uma menina. Conta como atravessou sua experiência no judiciário e na prisão. Enquanto ouvimos a sua voz, vemos algumas imagens poderosas e expressivas. Pinturas, alusivas à situação narrada, mas de modo muito indireto. Apenas no final descobriremos a que se referem. Em outras situações, a técnica narrativa se repete. Ouvimos as pessoas, não vemos os seus rostos. Imagens se sucedem. Por exemplo, ao debater a infernal burocracia do Judiciário, a câmera passeia por um infinito arquivo de pastas e papéis, algo que lembra a Biblioteca de Babel de que falava Jorge Luis Borges, um cultor de labirintos. No fim das contas, é cinema de utilidade pública, no melhor sentido da expressão.

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