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Amanda Rossi foi encontrada morta dentro do campus da Unopar | Roberto Custódio/JL
Amanda Rossi foi encontrada morta dentro do campus da Unopar| Foto: Roberto Custódio/JL

Mesmo estando em um ótimo nível de desenvolvimento, o cinema brasileiro ainda carece de bons roteiros, principalmente com histórias contemporâneas. Uma trama dramática atual bem contada, de uma forma ao mesmo tempo simples e agradável ao espectador, é coisa rara na produção nacional dos dias de hoje – por aqui, quase sempre se fica nos extremos: ou o texto é muito pobre, ou muito pretensioso, compreensível apenas a quem fez o filme.

Outra falha dos filmes nacionais: dificilmente a classe média brasileira é retratada nas telas em roteiros mais elaborados, revelando dramas e dificuldades de personagens que representem, por exemplo, profissionais liberais ou mesmo funcionários públicos – o engraçado é que, hoje em dia, são essas pessoas, por seu poder aquisitivo, que têm mais acesso às salas de cinema no Brasil. O foco por aqui, invariavelmente, recai sobre o lado social. Nada contra essa postura, mas, como lembrou o diretor José Padilha, nas entrevistas de lançamento de Tropa de Elite, parece que todo o filme brasileiro tem que resolver todos os problemas (sociais, econômicos, etc.) do país.

Mas bons roteiros, boas histórias, bons dramas, bons personagens têm sido encontrados facilmente no cinema de um país vizinho ao nosso: a Argentina. Neste fim de semana, pode-se novamente conferir esse momento especial do cinema argentino com a estréia, em Curitiba, de As Leis de Família, quinto longa-metragem do diretor Daniel Burman – prêmio especial do júri no Festival de Berlim 2005 com O Abraço Partido, já apresentado nas salas brasileiras.

A crise econômica argentina e seus reflexos na população local, principalmente nas pessoas de classe média, renderam vários filmes nos últimos anos. Mas alguns cineastas do país já estão se descolando desse tema, centrando seus filmes somente nos personagens, como é o caso de Burman – e também de Pablo Trapero, autor do ótimo Nascido e Criado, ainda inédito nos cinemas brasileiros (passou apenas nos festivais de Gramado, do Rio e na Mostra de São Paulo).

A história de As Leis de Família é narrada por Ariel Perelman – o uruguaio Daniel Hendler, em sua terceira parceria com Burman; ele ganhou o Urso de Prata de melhor ator do Festival de Berlim por O Abraço Partido –, professor do curso de Direito e defensor público. O personagem fala do relacionamento com o pai advogado (Arturo Goetz) e de seu casamento com a bela Sandra (Julieta Diaz), uma professora de pilates.

Como em O Abraço Partido, Burman retrata novamente a relação pai e filho – mas dessa vez com menos humor. Muito centrado na profissão, Ariel tem um certo distanciamento da mulher e do filho, seguindo um pouco a relação que mantém com a figura paterna, a quem chama sempre de Perelman pai – aos poucos, o personagem central constata que está repetindo, com o pequeno Gastón (Eloy Burman, filho do diretor na vida real), os mesmos erros cometidos por seu pai.

Tudo é apresentado sem reviravoltas dramáticas mirabolantes, o que pode incomodar quem vai ao cinema apenas em busca de distração fácil. As Leis de Família pode ajudar o espectador a refletir e pensar sobre temas familiares, mas sem impor pensamentos ou juízos de valores. Bom cinema também é assim, simples e direto. GGG1/2

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