Os integrantes do grupo têm participações em trabalhos de alguns dos principais músicos brasileiros| Foto: André Fofano/Divulgação
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A característica que fez do mangue o símbolo para o movimento de reanimação cultural do Recife, como queriam Chico Science e Nação Zumbi e companhia, é sua dinâmica de incessante transformação. Hoje, ao olhar com atenção alguns dos principais novos trabalhos da música brasileira, de Marisa Monte a Céu, não é raro encontrar nomes como o do baterista e produtor Pupillo e de seu companheiro de "cozinha", o baixista Dengue. Ou do cantor e compositor Jorge Du Peixe e do guitarrista Lucio Maia. Os integrantes da Nação Zumbi são alguns dos mais requisitados músicos provenientes de uma das cenas mais produtivas do país, e evidenciam a mudança que aconteceu no Recife.

"Quando criamos o Nação Zumbi, uma pesquisa colocava Recife como a quarta pior cidade do mundo. Aí você tira as conclusões", diz o vocalista Du Peixe, por telefone. "Era uma época de estagnação. O manifesto pelo mangue foi um grito, da música, cinema, artes, para fazer a cidade acordar", afirma.

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O reconhecimento do protagonismo do grupo pode ser sentido no CD e DVD Nação Zumbi – Ao Vivo no Recife, que o grupo acaba de lançar (leia mais ao lado). E as transformações da sonoridade também continuam – seja neste ou nos trabalhos paralelos dos integrantes da banda. "Os projetos paralelos acabam agregando coisas diferentes. Se refletem a cada disco. Estética vai se alterando", diz Du Peixe, que anuncia um próximo álbum do Nação Zumbi "muito diferente" – provavelmente, para o próximo semestre. "Existe uma responsabilidade grande, que é cobrada a cada disco, a cada subida no palco. E não só no Recife. Mas a gente vê com a maior naturalidade possível. É o que a gente gosta de fazer", ga­­rante o vocalista.

Movimento utópico

E a estética do Nação Zumbi, e de todos os grupos ligados ao mangue beat, aliás, nunca foi limitada por um "movimento", conforme lembra Du Peixe. No caso do Nação, o maracatu e as cirandas que os integrantes cresceram ouvindo foram absorvidos pelo rock e pelo hip-hop que faziam – mas não havia unidade entre os conceitos musicais do grupo e do Mundo Livre S/A, Eddie ou Mestre Ambrósio. "O mangue é plural", explica. A necessidade de contar esta mesma história, ano após ano, é lembrada por Du Peixe. "A cada aniversário da morte de Chico [Science] os jornais e telejornais querem fazer matéria, como se fosse mudar a cada ano", diz o atual vocalista, que substituiu o líder da banda a partir de 1997. Apesar disso, garante Du Peixe, a banda lida com tranquilidade com a figura mítica de Science a que continua relacionada. "É normal. Chico acabou falecendo muito novo. Ficou uma responsabilidade muito grande", diz.

Tampouco a relação direta com o mangue beat, que é frequentemente entendido como um gênero musical, incomoda. Para Du Peixe, o "movimento utópico", como definiu Fred Zero Quatro, do Mundo Livre S/A, continua vivo.

"Estamos aqui calcados no pensamento da gênese de tudo isso – a postura, o som, a música pela música. É o que a gente gosta e quer fazer o tempo todo. É uma prova do chute inicial, da longevidade que gera se manter fiel a isso", diz Du Peixe. "Lembrando a frase que Chico cunhou, que até hoje soa muito: ‘é diversão levada a sério’."

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