• Carregando...

Fortaleza – No ano que abre suas portas para o cinema ibero-americano, o Cine Ceará tem como principal homenageado um dos maiores nomes do audiovisual da América Latina, responsável pelo desenvolvimento e pela formação de vários profissionais da área. O diretor argentino Fernando Birri (foto) foi o fundador da Escola de Documentários de Santa Fé, na Argentina, a primeira de cinema da América Latina, e um dos criadores da importante Escola Internacional de Cine e TV de Santo Antonio de Los Baños, em Cuba, que este ano completa 20 anos.

Em entrevista ao Caderno G, o veterano cineasta, de 81 anos, fala sobre o desenvolvimento do cinema latino-americano e de seu novo filme, ZA 05 – O Velho e o Novo, que passará em uma sessão especial no encerramento do festival cearense, na próxima quinta-feira.

Comente a atual fase do cinema latino-americano, que cada vez mais alcança reconhecimento mundial.

Fernando Birri – O nascimento da Escola de Cuba não foi casual, assim como não é casual que o novo cinema latino-americano tenha crescido numa linha cada vez mais fiel com suas origens, mas ao mesmo tempo abrindo seu campo de visão. O mais interessante desse processo é o nascimento das novas cinematografias. Se me permite, eu não usaria mais a palavra cinematografia. Cinema é uma palavra velha, hoje temos que falar em imagens audiovisuais, de cinema, televisão, vídeo, do DVD. E também das imagens virtuais, estamos na era delas. Eu sou um mamute cinematográfico (risos), mas tenho que reconhecer a realidade dos nossos dias. Nesse sentido, hoje não há país da América Latina que não tenha seu lugar de experimentação audiovisual, pode ser cinema ou vídeo. No mundo, as coisas são mais complexas por causa das forças hegemônicas, sobre tudo Hollywood, que mexe com o equilíbrio entre oriente e ocidente. É como se esse pólo americano tivesse contaminado como um vírus todo o resto do mundo. Mas fora dessa hegemonia audiovisual, há uma grande quantidade de "erupções", que são as cinematografias de todas as partes do mundo. Há duas semanas, estava em Roma e pude acompanhar um maravilhoso filme da Mongólia, feito pelas pessoas de lá mesmo.

O que causou o grande desenvolvimento do documentário, que passou a ser mais reconhecido nos últimos anos?

O documentário deixou de ser aquele elemento privilegiado, que, no primeiro momento, exercitou apenas uma certa classe intelectual. Hoje, ele passou a ser algo que realmente toma parte de um estado de desejo das pessoas. Por outro lado, no audiovisual contemporâneo, é possível uma nova formulação do documentário. Eu estou trabalhando em um nova dimensão de uma imagem audiovisual, o doc-fic. Ele é um passo a mais, à frente do docudrama, que de certa maneira ainda respeita os cânones tradicionais do cinema. O doc-fic os rompe. Ele não é documentário nem ficção, é melhor, é documentário e ficção, uma outra dimensão da imaginação.

Fale sobre seu novo filme, ZA 05 – O Velho e o Novo.

Primeiro tenho que explicar o título. ZA é o apelido de Zabatini, o homem mais talentoso do neo-realismo italiano, o roteirista de Victorio De Sica e de filmes como Ladrões de Bicicleta, Humberto D, grandes filmes do cinema italiano. Ele era um homem muito inquieto, que permanentemente inventava coisas, o maestro da minha geração, que inclui Gabriel García Márquez, Glauber Rocha, Julio Garcia Espinosa, Tomás Gutierrez Aléa e muito outros. 05 é porque o filme foi terminado do ano passado. O subtítulo O Velho e o Novo é o título de um filme de Sergei Eisenstein, uma referência a ele, porque o filme é uma tentativa de fazer algo didático e coletivo. É uma colagem, um videoclipe grande de quase uma hora e meia de duração, com montagens de fragmentos de filmes fundamentais do cinema latino-americano, como Vidas Secas (Nelson Pereira dos Santos) e Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha), misturados a fragmentos dos trabalhos de final de curso dos estudantes da Escola de Cuba. Fui trançando essas imagens e o sentido é perguntar o que passa com o cinema latino-americano. Há continuidade ou oposição entre o velho e o novo? Ou simplesmente essas gerações representam realidades distintas? O filme não dá respostas, apenas ajuda a pensar sobre todas essas coisas. Cada espectador deve ter sua visão sobre o tema.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]