| Foto: Marcelo Elias/Gazeta do Povo

Pelo mundo

Algumas cidades que implantaram políticas restritivas de uso de automóveis:

Milão (Itália): Cobra até 10 euros (R$ 29) para quem entra na região central com veículo considerado poluente.

Londres (Inglaterra): Desde 2003 cobra pedágio (o equivalente a R$ 17) de motoristas que entram na área central. A medida reduziu em 16% o tráfego de automóveis.

Seul (Coréia do Sul): Cobrança de pedágio para motoristas que entram na área central com carros que tenham menos de dois passageiros.

São Paulo: Sistema de rodízio, limitando circulação em uma boa parte da cidade, por final de placa de veículos. Quem desobedecer pode pagar R$ 85,12 em multa e ter quatro pontos marcados na carteira de habilitação.

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Veículos por hora

Algumas ruas de Curitiba têm movimento maior do que o registrado em rodovias que levam ao litoral em dias de feriado. Confira a medição feita pela Urbs em horários considerados de pico:

- Rodovia BR-476 (antiga BR-116) com Rua José Fernandes Maldonado (Bairro Alto): 6.895 carros/hora.

- Avenida Silva Jardim com Rua Tibagi (Rebouças): 5.694 carros/hora.

- Avenida das Torres com Rua Alcides Vieira do Arcoverde (Jardim das Américas): 5.605

- Avenida Visconde de Guarapuava com Rua João Negrão (Centro): 4.351 carros/hora.

- Avenida Cândido de Abreu com Rua Lisymaco Ferreira da Costa (Centro Cívico): 4.552 carros/hora.

- Rodovia BR-277, sentido Curitiba, em medida feita dia 12 de abril, feriado de Páscoa, às 17h30: 2.100 carros/hora.

Fatos estranhos vêm acontecendo em algumas cidades pelo mundo. Em Vauban, na Alemanha, um pequeno distrito planejado, habitado desde 2006, não há carros. A construção de garagens, ou entradas para carros, foi proibida; e até é permitido aos moradores ter automóvel, mas, para isso, o motorista precisa pagar US$ 40 mil por uma vaga, valor cobrado pelos dois estacionamentos localizados no limite do distrito. Em apenas uma rua há movimento de veículos, um bonde que leva ao centro da cidade vizinha. Em Seul, na Coreia do Sul, um viaduto de seis pistas e oito quilômetros – parecido com o Minhocão, em São Paulo – foi implodido em 2003 e deu lugar a um parque.

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As duas medidas , a princípio drásticas, são sinais de uma mudança do modelo de mobilidade urbana, que, ao invés de priorizar veículos particulares, passa a investir em transporte público, pedestres e ciclistas.

Parecem ações localizadas, mas não são. Até uma década atrás, pensar no planejamento urbano da cidade era levar em consideração o transporte público e as vias para veículos particulares. Mas, atualmente, quando se fala em mobilidade urbana (que é a facilidade de deslocamento das pessoas e bens na área da cidade), a ordem é priorizar equipamentos para pedestres e ciclistas e pensar no impacto ambiental de qualquer ação. "Não adianta tentar resolver os congestionamentos abrindo viadutos, alargando ruas, porque é um trabalho que não tem fim. Em pouco tempo haverá mais carros na rua e mais necessidade de infraestrutura", diz o professor de Planejamento e Operações de Sistema de Transportes Antônio Nélson Rodrigues da Silva, da Universidade de São Paulo (USP). Ele acrescenta que os maiores problemas de trânsito das grandes cidades brasileiras foram causados justamente porque se investiu, durante muito tempo, em infraestrutura para veículos particulares. "O poder público precisa parar de facilitar a vida de quem anda de carro e dar mais facilidade para quem anda a pé ou de transporte público", diz.

Ruas apertadas

Curitiba ainda não vive uma situação de caos no trânsito, mas tem um quadro crítico. A frota cresce 6% ao ano, três vezes mais do que o crescimento da população. Hoje são 1,1 milhão de automóveis emplacados enquanto as vias, que somam 4,7 mil quilômetros, não podem aumentar de forma significativa já que o espaço urbano está ocupado quase que por inteiro.

O dilema entre transporte individual e público é um dos grandes desafios enfrentados não só por Curitiba, mas por governos e cidadãos do mundo inteiro. O desafio é apoiar o crescimento das cidades e o seu desenvolvimento econômico, fornecendo equipamentos de mobilidade urbana e, ao mesmo tempo, conseguir limitar o tráfego de veículos motorizados, já que esses têm um impacto negativo no meio ambiente e podem inviabilizar a mobilidade.

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Algumas cidades optaram por limitar o uso de carros com cobrança de pedágio (como acontece em Londres e Milão) para circulação nas regiões centrais, ou instituíram o rodízio por final do número de placa (a opção de São Paulo).

Se Curitiba ainda não chegou a níveis tão altos de congestionamento, não está esperando para começar a restringir de alguma forma o uso de carros particulares. A proibição de estacionamento em vias importantes da região central, como Avenida Visconde de Guarapuava e Rua Angelo Sampaio, é um primeiro sinal. Para estacionar nessa região com menor número de vagas, o motorista tem de agregar à opção de andar de carro o pagamento do estacionamento particular. E, de acordo com o presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), Cléver Almeida, essa restrição deve ser intensificada. "Espero que o curitibano não fique aguardando o caos para tomar uma atitude diferente. Podemos e devemos tratar a mobilidade como um assunto bastante sério e vital sem precisar jogar o cidadão contra a parede, obrigando-o a pagar pedágio, ou obedecendo rodízio, para que mude de atitude.", diz Almeida.

Fazer com que o usuário de carro ajude a subsidiar o transporte de massa é, na opinião do professor do departamento de Transportes da Universidade Federal do Paraná Garrone Reck, o melhor caminho para Curitiba. Ele diz que o acesso ao automóvel não é sinal negativo. "Acho bom que caia o paradigma de que carro é coisa de rico. É bacana que uma família classe D ou E tenha um carrinho para poder fazer viagens. A questão é ter consciência de que, para que todos vivam melhor, o carro deve ser usado em momentos realmente necessários", diz. A tarifa do ônibus de Curitiba hoje é subsidiada pelo próprio usuário. Quem faz trajetos mais curtos ajuda a pagar a tarifa de quem faz conexões e trechos maiores. "Por que não taxar o uso dos veículos? Se quiser andar de carro na região central, pague para isso e subsidie o custo de um transporte melhor", provoca o professor.